domingo, 26 de outubro de 2008

O valor salvífico da morte de Jesus em Paulo - Kasemann

Kasemann afirma que o valor salvífico de Jesus para Paulo perpassa pela morte de Cruz. A morte de Cruz não deve ser apenas proclamada, mas, viver Jesus crucificado. A morte de Jesus tem o significado de doação. A doação é senão o amor que se estabelece para com o outro[1]. Esse amor se reflete no outro pela caridade.
O homem não se salva por si mesmo, mas, Jesus é que conduz a salvação de toda a humanidade pela cruz. Somente a cruz reflete quem é o verdadeiro Deus e o verdadeiro homem Jesus. O processo da cruz ressalta um fator importante da pessoa de Jesus: a obediência. A obediência de Jesus é sinal de criaturalidade. Jesus se fez obediente até o fim, humilhando-se para conduzir toda a humanidade a justificação. Jesus faz que com a morte de cruz o homem se torne justo perante a Deus. A justificação é o homem livre da Lei se tornando nova criatura. O homem justificado é reconciliado com Deus pela graça divina. Evidentemente que da obediência de Jesus tem – se a justificação do homem, mas também Cristo salvaguarda toda a humanidade ao dia derradeiro tendo esta rejeitada toda a imagem de Adão (desobediente) a Deus
[2].
A teologia primitiva (outrora a Reforma) era da Ressurreição. Esta dizia que Paulo era adepto a teologia da ressurreição
[3]. A cruz seria, então, a sombra da ressurreição. Cabe a exegese responder tal questão. Em Gl 3,1 afirma que o crucificado foi pintado diante da comunidade, em 1Cor 2,8 as potencias demoníacas responsabilizadas pela morte de Cristo e em Fl 2,6 tem a circunstancia da descida de Cristo em sua humilhação e sua subida gloriosa que perpassou pela cruz. Não obstante, o acesso à cruz tem sua ressalva pela pregação. O evento salvífico não pode estar separado da pregação. A fé vem da pregação sendo a pregação um ato salvífico. A teologia da cruz e da palavra estão unidas[4] e contrapõem a teologia da Ressurreição pois consideravam esta como aquela que justificava todas as ações de Jesus na história. Para Paulo o Ressuscitado, assim o é, porque passou pela cruz. Fala-se do ressuscitado porque teve o evento da cruz. Eis a questão: A história pode desdobrar-se para a divindade? Jesus, Deus feito homem, que viveu na história da humanidade sofreu e morreu na cruz sendo obediente a Deus conduz a humanidade ao eschaton. Isso se deve pelo fato de que Jesus é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus[5]. Assim sendo a Cruz de Cristo justifica toda a ação do homem e faz parte da concepção teológica de Paulo. Pois, para Paulo Cristo se fez homem na história sofreu e morreu sendo obediente a Deus. Tais fatos ressaltam a humanidade de Jesus e a cruz é um evento que reflete todo o limite do ser humano com sua morte. A morte de Jesus é o ápice de que Ele foi inteiramente humano estando no mesmo nível da humanidade. Porém, não obstante, conduzindo todos à salvação e a estarem à direita do Pai no evento da Parusia. Desta forma afirma-se que a teologia da ressurreição nada mais é do que um capítulo da teologia da cruz[6].
Referencia Bibliográfica
Kasemann E., Perspectivas Paulinas. São Paulo: Teológica/Paulus, 2003

[1] Kasemann E., Perspectivas Paulinas. São Paulo: Teológica/Paulus, 2003, pp.70.
[2] Idem, pp73-78.
[3] Idem, pp 81.
[4] Idem, pp 85-86.
[5] Idem, pp. 89-90.
[6] Idem, pp 100.

sábado, 18 de outubro de 2008

Cristo sacramento primordial.

Cristo se manifesta em forma humana. A própria manifestação de Jesus é o resultado da promessa de Deus que se realiza na humanidade para que a mesma possa ser salva. Desta forma, os atos salutares de Jesus são sacramentais . Sacramento tem por sua vez o significado de salvação. É o dom da salvação transmitida pelos atos de Jesus na história da humanidade.
Jesus feito homem realiza a graça de Deus conseqüentemente a redenção divina é por isso que ele é o sacramento primordial . Desta forma o encontro com a pessoa de Jesus é o encontro pessoal com o próprio Deus. Assim, justifica os atos salutares de Jesus sendo, portanto, sinal e causa de graça.
A revelação de Jesus tem uma intenção: com a encarnação do Filho tem-se a redenção do homem, a libertação do pecado e a comunhão com Deus. O amor de Jesus aos homens é a manifestação do amor de Deus para todos os homens. Isso é o que se pode chamar de movimento de descendente de Deus . A condição em que a humanidade alcança a graça de Deus pela ação de Jesus é uma circunstancia que procede de baixo para cima. É um movimento ascendente.
Jesus é fonte de diálogo com o Pai. Toda a humanidade pode se sentir liberta e agraciada a Deus pela pessoa de Jesus. Ele foi obediente até o fim se fazendo homem e morrendo na cruz para a remissão dos pecados . A ressurreição e a glorificação de Jesus é o resultado de que a plenitude do Reino de Deus já se faz presença, mas que a humanidade ainda espera pela vinda do Senhor para o resgate final de todos que se fizeram justos.
Cristo comunica a todos a graça de Deus, pois ele e´ o sacramento por ser o Senhor ressuscitado, o KYRIOS como Espírito Santo .
A redenção se torna a iniciativa do Pai, pelo Filho, no Espírito Santo. Assim, temos a Trindade agindo na humanidade em que requer ao homem uma resposta, uma iniciativa para que Deus possa se fazer presente na vida daquele. O contexto da redenção é a Trindade agindo na humanidade, a obediência de Cristo, a humilhação do mesmo e a ação do Espírito Santo movendo a todos ao sentido da missão .
A narrativa da paixão revela o sentido do sacrifício expiatório de Jesus. Evidentemente que tal sacrifício tem como resultado a aliança com Deus. A morte de Cristo santifica, reconcilia e liberta a humanidade. O evento salvífico de Jesus não esta só para um momento (morte), mas para toda a encarnação de Jesus. O pecado tira a vida de Jesus, mas Deus restitui-lhe a vida; é a vitória de Deus. Deus o ressuscita é lhe dá o nome de KYRIOS, Senhor. O momento da ressurreição é a plenitude de Cristo que sobe ao céu pela ascensão em que a humanidade espera fielmente pela volta do Senhor na Parusia. Assim, se constitui o mistério da Redenção. Estabelece-se o conteúdo dogmático da vida de Cristo: Páscoa, Ascensão e Pentecostes. Páscoa é a fidelidade do Encarnado, a Ascensão é o Senhor como Rei do Universo e o prelúdio do Espírito Santo e Pentecostes é o complemento daquilo que Jesus já realizou e que se concretiza pela pessoa do Espírito Santo .




cf. SCHILLEBEECKX, E.; Cristo, Sacramento do encontro com Deus. Petrópolis: Vozes, 1968, pp. 21.
Idem, pp. 22
Idem, pp. 23
Idem, pp. 25
Idem, pp. 26
Idem, pp. 27
Idem, pp. 28-29






Referencia Bibliográfica
SCHILLEBEECKX, E.; Cristo, Sacramento do encontro com Deus. Petrópolis: Vozes, 1968

domingo, 12 de outubro de 2008

O mistério da Igreja – Sacramento de Cristo celeste.

A morte de Cristo é o nascimento da Igreja. Mas, é Cristo que promove a salvação. Cristo é a dimensão escatológica da qual a Igreja sempre está a espera pela vinda do Senhor. O corpo de Cristo é a Igreja e isso se procede ao mesmo tempo com a “cabeça e Membros” de Cristo. A Igreja se torna a comunidade visível da graça de Deus na obra redentora do Salvador. Cristo ao ser glorificado se torna manifesta a Igreja celeste da qual a todos participam. Por outro lado, com a ascensão de Cristo, o Espírito Santo manifesta a Igreja terrestre entre os homens. Desta forma, a Igreja se torna objeto de salvação e santificação para os homens. Pela Igreja tem-se a manifestação do amor de Deus a todos (um movimento de cima para baixo) e também um serviço a Deus – culto (movimento de baixo para cima). Com efeito, tem-se, para este ultimo movimento, a circunstancia de ministérios que se desenvolvem e de carismas que promovem a comunhão. Assim, percebem-se os instrumentos que contribuem para a promoção do Reino de Deus a todo homem de boa vontade. O sacramento é, de princípio o próprio ato de Cristo inserido na Igreja. O sacramento é ato visível de Cristo na Igreja com salvação. A recepção na fé dos sacramentos é o resultado de um encontro com Deus. Nos atos históricos de Jesus temos um mistério envolvido (todo o mistério da encarnação, paixão, morte de Cristo na Cruz , ressurreição e redenção). Este mistério de presença de Deus na comunidade é o sacramento que sempre se atualiza na história. Tal fato se procede porque Jesus se fez homem; é o homem/Deus que rompe com o tempo e a história porque seus atos são eternos. A vida de Cristo é eternizada através da glorificação. Nos sacramentos tem-se o ato sacrifical, espiritual e corporal de Cristo que agem de modo salutar para a salvação. Na realização dos sacramentos é Cristo que batiza, absolve e se torna presença real na eucaristia. Cristo age na Igreja. O sacramento é a celebração do sacrifício de Cristo que é uma resposta ao dom da graça. Torna-se, então, a segurança da salvação escatológica no Cristo se fez KYRIOS. Cristo se encontra nos sacramentos por ter uma realidade eterna: Homem-Deus, manifestando a graça divina. Não obstante, o sacramento é instrumento de santificação, ou seja, a resposta humana ao ato de Jesus nos sacramentos. O sinal do culto é a manifestação do interior de cada pessoa, isto é, a profissão de fé que cada pessoa manifesta em culto a Deus. Os sacramentos, por assim, dizer tornam-se atos simbólicos que exprimem a fé de uma comunidade religiosa. O ato de culto da Igreja é a comunhão com a graça de Deus que santifica. Nos sacramentos tem a eficácia da graça infalível, pois, Cristo age na santificação do fiel. Essa infalibilidade é expressa pelas palavras EX OPERE OPERATO. É o próprio ato simbólico e ritual da Igreja. A santificação tem a sua eficácia através do rito estabelecido. Esse mistério expresso em realizações humanas de redenção tem como sinal edificante a pessoa de Cristo glorioso que é transmitida pela Igreja na pessoa do Espírito Santo. Desta forma, o sacramento na Igreja tem a graça Trinitária que contempla a eficácia do sacramento[1]. O sacramento é sinal eclesial da fonte da graça de Cristo. Portanto, o ato simbólico da Igreja está impregnado de toda a ação de salvífica de Cristo. A salvação de Cristo se realiza essencialmente no sacramento.



Referencia Bibliográfica
SCHILLEBEECKX,E., Cristo, sacramento do encontro com Deus. Petrópolis, Vozes, 1968.







[1] “...a teologia ensina que, colocado corretamente o sinal exterior, o rito opera a graça por si mesmo ou EX OPERE OPERATO, não podemos esquecer o profundo mistério cristológico e trinitário que por ele professamos... a obra do Senhor sacramentalizada para nós em um ato religioso autenticamente eclesial, o Pai de misericórdia nos comunica a graça pela missão do Espírito de Cristo” (SCHILLEBEECKX,E., Cristo, sacramento do encontro com Deus. Petrópolis, Vozes, 1968, pp80).

domingo, 5 de outubro de 2008

Os sacramentos, lugares de encontro com Deus.

O mistério de Deus se revela em Cristo. O mistério se revela, mas, ainda continua o mistério da ação de Deus no homem. Cristo se fez homem para redimir toda a humanidade e conduzi-la a Deus. Este é senão o plano de Deus para com a humanidade. Toda a humanidade está assegurada pelas mãos de Deus. É por isso que Cristo se faz presença em meio ao homem para que este possa estar na presença de Deus. A aliança feita com Deus já é o reflexo da bondade de Deus existente desde a criação. A realização do homem se procede pelo amor de Deus agindo na humanidade. Desta forma, Cristo torna-se o elo que interliga o humano e o divino. Cristo torna-se o sacramento que une o homem a Deus. Outrora, o termo sacramento era adotado como juramento de fidelidade, ou seja, um pacto em que se estabelecia entre amigos ou qualquer relação pública. Desta forma tornou-se apropriado traduzir o termo mistério do latim como sacramento, pois Deus pactua com a humanidade o plano divino da salvação. É assim, que se tem a aproximação do mistério ao termo sacramento. Como pode Deus pactuar seu mistério com a humanidade? Jesus é o sacramento do qual realiza a ação salvífica de Deus. O sacramento é a manifestação de Deus na humanidade pela pessoa de Jesus. A graça de Deus interage na humanidade por intermédio de Jesus. Deus deixa transmitir sua graça pela pessoa de Jesus. Evidentemente que a graça de Deus já se fazia presença já desde a criação, mas com Jesus a humanidade percebe e reconhece e n’Ele a obra do Redentor. Jesus transmite os sinais eficazes da graça de Deus para a realização da redenção de toda a humanidade. Cada sinal transmitido por Jesus é a graça de Deus agindo na história do homem. O homem é convidado a corresponder à graça de Deus em sua vida. A Palavra de Deus se faz viva e eficaz. A misericórdia de Deus adentra toda a existência humana. Desta forma os sacramentos realizam a aliança com Deus na pretensão de que cada pessoa interaja no amor e na humildade.



Referencia Bibliográfica

FORTE, B., Introdução aos Sacramentos. São Paulo: 1996.