domingo, 26 de julho de 2009

6.2 - Expiação

6.2 - Expiação
A morte de Cristo, na cruz, e sua ressurreição dizem respeito à remissão dos pecados da humanidade. Cristo morreu pelos nossos pecados: “Nesse Filho, pelo seu sangue, temos a Redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça” (Ef 1,7). No grego, expiação (hilasterion) tem um sentido de ira por parte de uma divindade ou de um herói. Na versão dos LXX, o termo expiação não está para um significado de ira de Deus, mas de purificação. Cristo expia os pecados da humanidade, ou seja, purifica, limpa ou remove a profanação contida no homem. Paulo, podendo estar ciente dos significados dessas terminologias no Antigo Testamento, utiliza o sentido de expiação que não seja o de ira por parte de Deus Pai, mas sim, de purificação . Pelo pecado, o homem não pode contemplar a glória que lhe foi concedida. A misericórdia de Deus é o ato pelo qual Deus livra a humanidade de seus pecados, porque o Pai dispôs-se, aceitando Cristo, na cruz, para a remissão dos pecados do homem. Outra vertente que afirma Paulo usar a expiação dos pecados como purificação é o fato de que da versão dos LXX, a palavra hilasterion foi traduzida do hebraico pelo termo kapporet. Esse termo tem a designação de “propiciatório”. Propiciatório é a descrição da tampa da Arca da Aliança em que havia dois querubins de ouro (Ex 25,17-22). O sacerdote, juntamente com sangue de animais sacrificados, entrava, no santuário, aspergindo o propiciatório, no intuito de purificar ou expiar todo o pecado de Israel. Paulo, mencionando o sangue de Cristo, a glória de Deus e a remissão dos pecados, pode-se afirmar uma influência dos hebreus no pensamento de Paulo . O sangue de Cristo é a própria remissão dos pecados, sem ele não teria a reconciliação com Deus . No Antigo Testamento, o sangue era tido como aquilo que purificava objetos e pessoas, tirando a profanidade e unindo-os mais a Javé . O sangue era considerado como a respiração. Quando o homem perdia o sangue perdia também a respiração e, conseqüentemente, a vida. O sacrifico dos animais era uma ação simbólica de entrega da própria pessoa a Javé se reconciliando com Deus e purificando-se de seus pecados. A ação voluntária de Cristo é a entrega do mesmo de iniciativa de puro amor em remissão aos pecados da humanidade.

domingo, 19 de julho de 2009

6.1 - A reconciliação.

6.1 - A reconciliação.
Da paixão, morte e ressurreição de Cristo, têm-se a reconciliação do homem com Deus. É a restauração da união e da paz entre o homem e o Pai. Depois de um período de afastamento e rebeldia, ocasionados pelo pecado e pelas transgressões, tem-se o retorno da humanidade à intimidade com Deus. O critério de reconciliação se encontra em algumas afirmações de Paulo:

“Tudo isso vem de Deus, que nos reconciliou consigo, por Cristo, e nos confiou o ministério desta reconciliação. Porque é Deus que, em Cristo, reconciliava consigo o mundo, não levando mais em conta os pecados dos homens, e pôs em nossos lábios a mensagem da reconciliação” (2Cor 5,18-20) e “e por seu intermédio reconciliar consigo todas as criaturas, por intermédio daquele que, ao preço do próprio sangue na cruz, restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus” (Cl 1,20).


O pecador tem acesso à presença de Deus pela graça de Jesus Cristo. Já não se tem mais distinção entre gregos e judeus, pois Cristo se tornou a paz para todos, abolindo a Lei. Cristo trouxe a paz, cessando a hostilidade com a cruz. “Justificados, pois, pela fé temos a paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5,1). A reconciliação do homem a todas as coisas tanto, no céu como na terra, é um processo que percorre também a ação do Pai, pois foi por Ele que a humanidade se reconciliou a Deus por intermédio de Jesus Cristo. O sangue, na cruz, é a entrega de Cristo em ação salvífica de toda a humanidade, cumprindo a vontade de Deus. Pela morte do Filho, a humanidade pode regozijar-se da união com Deus Pai pelo Cristo.

domingo, 12 de julho de 2009

6 - A salvação e suas implicações.

6 - A salvação e suas implicações.

Paulo apresenta várias formas para a atividade salvífica de Cristo. É de se considerar que os efeitos da salvação para Paulo são provenientes da paixão, morte e ressurreição de Cristo. O homem participa da ação salvífica de Cristo por meio da fé e do batismo. A concretização da obra salvífica se procede pela reconciliação do homem com Deus, na expiação dos pecados, na libertação redentora e na justificação.

domingo, 5 de julho de 2009

5 – O “Espírito de Deus”.

5 – O “Espírito de Deus”.
Paulo não faz distinção clara entre o Espírito e Jesus. Em Rm 8,9-11, as expressões “Espírito de Deus”, “o Espírito de Cristo”, “Cristo” e “o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos” são usadas, indiscriminadamente, para descrever a ação divina, na vivência cristã. Desde a ressurreição, Cristo tornou-se “espírito vivificante” (1Cor 15,45) e foi “constituído Filho de Deus com todo o poder, segundo o espírito de santificação” (Rm 1,4). Paulo também utiliza os termos: “Espírito do Filho” (Gl 4,6), o “Espírito de Jesus Cristo” (Fl 1,19) e de Jesus como “Senhor do Espírito” (2Cor 3,18) e chega mesmo a dizer: “o Senhor é o Espírito” (2Cor 3,17).
Por outro lado, nas cartas de Paulo, este ressalta termos que se iguala a Deus (Pai), a Cristo (Filho) e ao Espírito Santo, numa aproximação que é a base do dogma da Santíssima Trindade .
Nos textos manifesta a falta de clareza de Paulo ao conceber a relação do Espírito para com o Filho. Mas essa falta de clareza deve ser respeitada, pois, na verdade é, simplesmente, um ponto de partida para a compreensão da Trindade. A compreensão de Paulo sobre a Trindade é simplesmente salvífica. A cristologia de Paulo tem como referência os ensinamentos sobre o Espírito. O que interessa a Paulo é o papel do Espírito na salvação do homem. Se Cristo manifestou aos homens a possibilidade de nova vida em união com Deus, será mais exato dizer que é o “Espírito de Cristo” que é o meio dessa comunicação dinâmica, vital e o princípio vivificador dos homens.
O Espírito é a ação de Deus na vida do homem. É pelo Espírito que o homem se torna justificado em Deus. A vida, no Espírito, é uma vida de graça abundante da qual o homem abdicou daquilo que impedia de viver em Cristo.

O Espírito é força e fonte do amor cristão, da esperança e da fé. Liberta os homens da Lei dos desejos da carne , do comportamento imoral . O dom do Espírito constitui a filiação adotiva , que, em oração, dá ao cristão consciência de sua relação com o Pai. Essa força do Espírito não é algo distinto do poder de Cristo, pois os cristãos foram consagrados e justificados “pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito do nosso Deus” (1Cor 6,11).