domingo, 27 de dezembro de 2009

3 - A vinda do Reino de Deus.

3 - A vinda do Reino de Deus.

A pregação de Paulo tem a intenção de pregar a vinda do Reino de Deus[1]. Paulo fundamenta o conceito escatológico na própria pregação do Senhor Jesus. Ele anunciou a chegada da plenitude dos tempos, dizendo: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1,15). E ele próprio mencionou que o Reino era a revelação do mistério,

“... a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas àqueles não lhes é isso concedido... Bem-aventurados, porém, os vossos olhos, porque vêem; e os vossos ouvidos, porque ouvem. Pois em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não viram; e ouvir o que ouvis e não ouviram (Mt 13,11.16-17).

A plenitude dos tempos não se torna evidente somente pelas pregações de Paulo, mas, tendo, origem na pregação de Jesus Cristo, permeia todo o ensino do Novo Testamento. Paulo, entretanto, mais que os outros, desdobra o kerygma, em riqueza de aspectos e detalhes, com uma profundidade de pensamento sem igual. Muito embora a pregação de Paulo seja rica e variada, espalhada pelas 13 cartas (protopaulinas e deuteropaulinas), percebe-se que há uma estrutura fundamental que subjaz seus ensinos, que é o conceito da história da salvação. Paulo pensa escatologicamente, isto é, entende a obra de Cristo como sendo o cumprimento das promessas antigas feitas por Deus por meio dos profetas de Israel.



[1] Dei Verbum, 187

domingo, 20 de dezembro de 2009

2.1 - Deus revela os mistérios referentes aos seus planos para a história.

2.1 - Deus revela os mistérios referentes aos seus planos para a história.
Destacam-se que Paulo percebe seu ministério em termos que se encontram em Daniel:

“Então, foi revelado o mistério a Daniel numa visão de noite; Daniel bendisse o Deus do céu” (Dn 2,19); “Respondeu Daniel na presença do rei e disse: O mistério que o rei exige, nem encantadores,nem magos nem astrólogos o podem revelar ao rei” (Dn 2,27); “E a mim me foi revelado este mistério, não porque haja em mim mais sabedoria do que em todos os viventes, mas para que a interpretação se fizesse saber ao rei, e para que entendesses as cogitações da tua mente” (Dn 2,30); “Disse o rei a Daniel: Certamente, o vosso Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos reis, e o revelador de mistérios, pois pudeste revelar este mistério” (Dn 2,47).


A revelação do mistério de Cristo, portanto, é o próprio aparecimento, na história desse conselho divino, mantido em segredo por Deus. Esse é o tema da pregação de Paulo e o ministério que ele recebeu: o mistério de Cristo e a revelação do mesmo aos seus santos.
Cristo se revela no “agora”. Cristo passa a se revelar, na história de acordo com os desígnios de Deus . Em paralelo, temos estas palavras de Paulo: •

“... da qual me tornei ministro de acordo com a dispensação da parte de Deus, que me foi confiada a vosso favor, para dar pleno cumprimento à palavra de Deus: o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos” (Cl 1,25-26); • “... se é que tendes ouvido a respeito da dispensação da graça de Deus a mim confiada para vós outros; pois, segundo uma revelação, me foi dado conhecer o mistério, conforme escrevi há pouco, resumidamente; pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo, o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecera os filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito” (Ef 3,2-5).

domingo, 13 de dezembro de 2009

2 - A Revelação do Mistério

2 - A Revelação do Mistério

A vinda do Senhor, para Paulo, é como um revelar de um segredo que fora mantido sob a guarda de Deus.

“Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos, e que, agora, se tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus eterno, para a obediência por fé, entre todas as nações” (Rm 16,25-26); “... o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos” (Cl 1,26); “... para que o coração deles seja confortado e vinculado juntamente em amor, e eles tenham toda a riqueza da forte convicção do entendimento, para compreenderem plenamente o mistério de Deus, Cristo, em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos” (Cl 2,2-3);

Oculto, nos tempos eternos, o Evangelho era um mistério que se revelara pela ação de Cristo na humanidade (encarnação, morte, ressurreição) e mediante a pregação apostólica[1]. É importante observar que o conceito de mistério em Paulo tem o pensamento judaico, moldado pelas Escrituras. Dessa forma, Deus se faz presença na humanidade. É o mistério de Deus que se faz presença na história.



[1] Presbyterorum Ordinis, 1215

domingo, 6 de dezembro de 2009

1.3 - Nova criação

1.3 - Nova criação
E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas (2Cor 5,17). A passagem não diz respeito somente a um individuo, a uma nova criatura, mas o florescer de uma recriação do mundo em Cristo. Isso se deve ao fato de que o mundo e todo o indivíduo pertencem a Cristo. “As coisas velhas” e “o novo” devem ser entendidos, similarmente, de forma escatológica. Paulo está fazendo um contraste entre dois mundos e não entre dois estágios da vida do cristão individualmente. O termo “velho” diz respeito ao mundo que não se redimiu do pecado, e o “novo” refere-se ao tempo da salvação que foi promulgada pela ressurreição de Cristo. Portanto, estar em Cristo configura-se a da nova criação, ao novo mundo de Deus. A seguir, podemos encontrar passagens que são reflexos desse conceito de Paulo, referindo-se à nova humanidade, configurada, recriada por Deus conforme a sua imagem, em Jesus Cristo: Pois somos criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus, de antemão, preparou para que andássemos nelas

(Ef 2,10); “...aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz” (Ef 2,15); “e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” (Ef 4,24); “e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (Cl 3,10).


As passagens podem fazer referência ao antes e o depois da conversão, no mais, o ponto central é a nova criação em Cristo. A humanidade se torna nova criatura em Cristo pela fé. A diferença entre o velho e o novo dá sentido escatológico, é o tempo da história entrelaçada pela nova vinda de Cristo. Dessa forma, estruturam-se as linhas fundamentais da pregação de Paulo. Portanto, a plenitude dos tempos é o conceito fundamental da pregação de Paulo que se expressa, não obstante, pelos termos: “dia da salvação”, do “agora” escatológico e da recriação da humanidade em Cristo.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

1.2 - O dia da salvação...

1.2 - O dia da salvação...
...porque ele diz: Eu te ouvi no tempo da oportunidade e te socorri no dia da salvação; eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação (2Cor 6,2). Por “tempo sobremodo oportuno” e “dia da salvação” Os termos referentes não quer apontar uma ocasião de conversão para toda a humanidade, mas, o desfecho final, o esperado dia do Senhor, a decisiva hora da humanidade, o dia da salvação, no seu sentido escatológico de consumação . A encarnação, morte, ressurreição, glorificação de Cristo e a vinda do Espírito dizem respeito ao dia da salvação em que Paulo considera como os últimos eventos, sendo esses decisivos dentro da ação salvífica de Deus na história da humanidade. Aproxima-se o dia da salvação. Esse aproximar, no agora, é o evento escatológico que Paulo afirma o despontar da salvação, na história da humanidade, a plenitude do tempo. O futuro já se inicia no tempo presente :

Cl 1,26 – “o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora,todavia, se manifestou aos seus santos”; 2Tm 1,10 – “e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus,o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho”.

domingo, 25 de outubro de 2009

6.1 – Incorporar-se a Cristo: batismo.

6.1 – Incorporar-se a Cristo: batismo.

O Espírito Santo é a força que anima a fé e a união no Cristo ressuscitado[1]. O “renascer”, em Cristo, é o batismo que é conferido a todos aqueles que aceitam e querem seguir a Cristo[2]. Dessa forma, Paulo desenvolve sua teologia, afirmando a eficácia dos ritos e dos sacramentos. Isso podemos conferir em, 1Cor 10, 1-4, no que diz:

“(Não quero que ignoreis, irmãos), que os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem e que todos atravessaram o mar; todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar; todos comeram do mesmo alimento espiritual; todos beberam da mesma bebida espiritual (pois todos bebiam da pedra espiritual que os seguia; e essa pedra era Cristo)”.

O batismo inicia o Cristão a “configurar-se” em Cristo pelo rito de água acompanhado do Espírito Santo. O pão espiritual tem sua imagem, no maná, e, na verdadeira bebida, simbolizada pela água e rocha, simbolizando, assim, a eucaristia, sinal e presença de Deus em meio aos homens.

O batismo faz referência ao relato da cruz ao qual Cristo foi submetido. O cristão é submerso às águas assim como Cristo foi sepultado. “Fomos, pois, sepultados com ele na sua morte pelo batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova. Se fomos feitos o mesmo ser com ele por uma morte semelhante à sua, sê-lo-emos igualmente por uma comum ressurreição” (Rm 6,4-5). Outra passagem também dá referência ao batismo “Sepultados com ele no batismo, com ele também ressuscitastes por vossa fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos” (Cl 2,12). A cruz torna-se inseparável da ressurreição, o relato da cruz lava, em si, o poder da ressurreição. A ressurreição de Cristo rompe com a lei, a escravidão humana e o pecado que impedem de seguir a Cristo. Por isso, a cruz e a ressurreição são a plenificação da graça de Deus na natureza humana. Pela morte de Cristo, todo o homem é conduzido a Deus. O batismo se torna a nova vida em Cristo.



[1] Apostolicam Actuositatem, 1336

[2] “Tem-se o batismo como ponto de embarque, no âmbito das afirmações de orientação cristológica. A compreensão paulina do batismo oferece a melhor opção para demonstrar com clareza a relação característica entre eclesiologia e cristologia. Além disso, pode-se demonstrar que o horizonte de ambas é a escatologia.” (cf. ROLOFF, Jurgen, A Igreja no Novo Testamento, pp. 97).

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

1.1 - O conceito de plenitude do tempo

1.1 - O conceito de plenitude do tempo

Paulo usa a expressão plenitude do tempo, duas vezes, em suas cartas.

Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei (Gl 4,4).... desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele,na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra (Ef 1,9-10”) .

A plenitude do tempo, no seu pensamento, não é o amadurecimento do tempo ou seu ponto climático, como popularmente se pensa, mas o cumprimento ou término do tempo em seu sentido absoluto[1]. O tempo do mundo chegou ao seu fim com o advento de Cristo. Não que o mundo deixa de existir, mas que o mundo, como o conjunto de valores humanos da humanidade em rebelião contra Deus, entrou em seu último estágio, na etapa final da história[2]. Ou seja, o momento decisivo e final da história humana já começou: Gálatas 4,4, plenitude do tempo expressa o cumprimento do tempo como tempo do mundo ou o tempo cronológico.

Em Efésios 1,10, plenitude dos tempos, expressa o cumprimento de todas as intervenções da historia e da redenção de Deus anteriores, no decorrer do tempo do mundo. A vinda de Cristo foi à última intervenção salvadora de Deus na história (a segunda vinda é o desdobramento final desta última intervenção). Embora Paulo reconheça o caráter ainda futuro do fim dos tempos, fala dele como tendo já sido acontecido ou inaugurado: Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, Paulo não se referia a dias ainda por vir, mas à sua própria época (2Tm 3,1). Essas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado (1Cor 10,11). Mas, o alvorecer da última hora para Paulo (cf. 1Jo 2,18) é entendido, não somente como o julgamento definitivo deste mundo, mas como o raiar do grande dia da salvação, prometido pelos antigos profetas de Israel. Vejamos, em seguida, este outro conceito fundamental, que é o dia da salvação.



[1] “O Reino de Deus é algo que transpõe as dimensões do tempo, sendo presente e também futuro. Não é possível restringir o ensinamento paulino a respeito do Reino de Deus/Cristo a termos temporais. É verdade que ele tende a falar da revelação última do Reino como acontecimento futuro, mas há indícios em apoio do argumento de que o poder deste Reino escatológico está também em ação na vida da comunidade cristã de agora” (cf. Gerald F. HAWTHORNE et alii, Dicionário de Paulo e suas cartas. pp. 1054).

[2] Unitatis Redintegratio, 764