domingo, 25 de janeiro de 2009

Metafísica e teologia

• Santo Tomas aproxima a metafísica da teologia, porém a teologia de Santo Tomas está inserida no contexto da Sacra Doctrina. O que seria a Sacra Doctrina? É a própria ação de ensinar e o que se ensina sobre Deus, Revelação, Trindade, Tradição e a pregação de Igreja e tem seu fundamento na Sagrada Escritura. A Sacra Doctrina tem seu desenvolvimento na linha especulativa: esforço da inteligência a fé; histórico positiva: progressos da exegese e patrologia e a linha mística: demonstração de piedades;
• A teologia é, antes de tudo, uma expressão de vida teologal em atividades em que as virtudes da fé, esperança e caridade são exercidas plenamente. Para isso requer a fé como condutor de uma boa vida cristã. Para Santo Tomas à Bíblia requer essa adesão vital de toda a pessoa à realidade divina que se manifesta em nós;
• A teologia e a fé exercem uma relação da qual o homem não pode dissociar Esta é a razão de ser de todo o homem. Sem a fé não teria justificação. A fé é a capacidade da qual o homem pode alcançar a realidade divina. O ato do cristão não termina na coisa em si, mas, somente, em Deus. São Tomé é o exemplo de cristão, que com sua fé, exerce o propósito em aproximar-se de Deus. É a partir o momento em que cai de joelhos aos pés do Ressuscitado que lhe mostra suas chagas, o apóstolo Tomé, o incrédulo, torna-se de imediato um bom teólogo;
• A fé é animada por desejo ardente que procede do Amor. É animada pelo desejo do bem prometido que impele a pessoa crer na verdade divina. Se a fé não se concebe sem o amor, é que ela não se dirige a uma verdade abstrata, mas a uma pessoa na qual Bem e Verdade se identificam. A Verdade primeira que é o objeto da fé é também o Bem supremo objeto de todos os desejos e de todo o agir do homem;
• Para Aristóteles as coisas concretas são evidentes ao homem e isso é chamado de “princípios”. Santo Tomas utiliza esses “princípios” e insere um termo chave de seu pensamento “verdade-conclusão” Um exemplo disso é a própria pessoa de Jesus em que é um “princípio”, mas, ao mesmo tempo é uma “verdade-conclusão” desta forma é fácil perceber o ser numa dimensão escatológica. O teólogo é conduzido a todo o processo de saber concreto que ao fim de sua busca é irresistivelmente conduzido para Aquele que é o fim último de sua vida de fé;
• Quando Santo Tomas explicita a realidade divina, este fala de Deus como sujeito da teologia. Deus é o Principio e o Fim, o Alfa e o Omega. Mas, para entendermos o significado do termo sujeito, temos que analisarmos o conceito de objeto e sujeito que fora empregado para entendermos o que foi empregado por Santo Tomas. Outrora a Santo Tomas, o sujeito era a realidade mental do homem e o objeto a realidade exterior em que o homem apreende com a razão. Santo Tomas inverte esta concepção. Deus é considerado o sujeito e o homem (a razão humana, o objeto) isso porque Deus jamais pode se reduzir a um objeto. Deus é o fim ultimo que o homem deve atingir. O teólogo jamais pode esquecer que o sujeito de seu saber, o fim que persegue, é o conhecimento do Deus vivo da história da salvação;
• Deus é o sujeito da teologia. Não é as coisas criadas das quais devemos recorrer, mas, a iniciativa de Deus em seu amor misericordioso. De modo algum a Igreja pode explicar-se a si mesma, deve-se voltar para Aquele que é a Cabeça, Cristo, e ele em sua humanidade é o enviado do Pai e da Trindade;
• Evidentemente que toda a ação de Deus na vida do homem requer uma adesão. Essa adesão é uma tendência para a participação na vida de Deus. Santo Tomas chama essa tendência do homem de habitus (hábito). O Dom divino inteiramente gratuito age no ser humano, aperfeiçoando a capacidade natural a altura de relacionar-se com Deus. É a graça divina que impera na pessoa humana para que cada um possa se dispor as vontades de Deus;
• Desta forma permite-nos perceber a teologia de duas formas: a teologia enquanto a razão animada pela fé, sendo, uma ciência piedosa, penetrada na caridade. A teologia não deve ser morta, pois isso seria anormal, mas, contemplativa e orante. Acrescenta-se aqui outra característica da teologia: exercício da oração. Por outro lado, a teologia tem sua dimensão escatológica. É a fé e a caridade que promovem a esperança. Todo o ser humano participa do conhecimento divino, pois o homem adere-se pela fé à verdade primeira;
• Assim, descreve-se uma teologia espiritualista em que o ser criado tende a aproximar-se do Divino. A espiritualidade é a realidade vivida por determinada pessoa em que a qualidade de vida é levada sob a moção do Espírito. O Espírito Santo age no homem e este se deixa conduzir as obras de caridade. Cristo é o exemplo perfeito em que encontra uma espiritualidade plena. A espiritualidade de fato nos torna mais humanos e aptos a perceber no outro a pessoa de Cristo. É por isso que na teologia não se pode dissociar a realidade concreta do “meta-físico”, isso porque o agir humano mesmo com sua realidade existencial contribui para um aproximar-se de Deus.

Referências

TORREL, J. P., Santo Tomás de Aquino. Mestre Espiritual. São Paulo: Loyola, 2008.

ELDERS, L. J. La Métaphysique de Saint Thomas d’Aquin. Paris: Librairie Philosophique J. Vrin, 1994.

domingo, 18 de janeiro de 2009

A origem e a utilização do termo metafísica.

A primeira utilização do termo metafísica foi atribuída a Andronicos de Rhodes que pôs em ordem e publicou os discursos de Aristóteles no primeiro século antes de Cristo. Ele teria dado o título a “escritos depois dos tratados da ciência natural” a certo número de textos dos quais o conteúdo varia muito. A palavra metafísica foi empregada a partir desta expressão;
• O próprio Aristóteles não utilizou o termo metafísica. Ele refere-se a ela como filosofia primeira;
• Santo Tomas rejeita a tese segunda a qual o real é inacessível e ensina a possibilidade de esperar e de conhecer o ser. SER HOMEM e a experiência individual do homem não são aspectos acidentais do ser. Isso porque o homem pode impor significações as coisas. Santo Tomas afirma que a metafísica não é um conhecimento subjetivo da realidade e que ela é independente das experiências que pertencem no mundo. Um tal conhecimento é possível graças a capacidade intelectual de abstrair o universo e o comum das coisas concretas;
• A este ponto é útil perceber que Santo Tomas faz notar várias tomadas que nosso conhecimento pode apreender através dos sentidos. Nosso intelecto percebe, portanto, os dados da experiência sensível, fazendo que haja uma interação entre a matéria e aquilo que é inacessível a mente humana;
• É preciso notar que a metafísica de Santo Tomas não estuda o que é dado objetivo. Mas o ser, que compreende o ser humano em sua medida tem seu alcance ao cosmos. É a realidade concreta do homem que se eleva a uma ordem mais superior;
• SCG III 16, 9 ad 2 “A base del verbo comentó no se construye un argumento que vaya de lo inferior a lo superior, diciendo, por ejemplo: esto ha comentado a ser blanco. Luego ha comentado a ser colorado. Y esto porque el comentar implica existir ahora y no antes. No es posible argüir así: esto antes no era blanco. Luego antes no era colorado. El existir escuetamente es superior al existir como hombre. Por lo que no es lógico hacer esta deducción: Cristo comentó a ser hombre. Luego comentó a existir”.
• O primeiro ponto a sublinhar é que segundo Santo Tomas a metafísica não trat unicamente do mundo imaterial e suprassensível que se situaria depois ou além dos objetos da percepção;
• Santo Tomas sublinha que a metafísica tem como sujeito o ser. Isso significa que a metafísica não se trata de uma categoria particular do ser mas estuda tudo o que existe. Desta forma, Santo Tomas corrige Aristóteles em que afirma que a filosofia primeira que é considerada separada da matéria;
• Santo Tomas nota que o intelecto deve assimilar o real e que isso se produz pelo intermédio de etapas sucessivas da abstração e separação. Neste estado uma forma de separação é posta em relação ao ser das coisas. O que é característica desse conceito é que o intelecto deve assimilar sucessivamente diferentes degraus do ser: de fato a hierarquia do ser é decisiva para a alcançarmos a metafísica;
• SCG I 85, 1 ad 2 ya que esto sería abstraerías de la materia inteligible común. Sin embargo, no es necesario referirlas a esta o a aquella sustancia. Esto equivaldría a abstraerías de la materia inteligible individual”.
• Na existência do ser imaterial nós temos a identificação do ser com a realidade material em que não é necessário reduzi-la. Isso significa que nós adquirimos uma nova compreensão do ser mais profunda e purificada. O ser deixa de ser uma característica puramente material, mas utiliza também considerações que vão além da matéria. Assim, a metafísica quer dizer o que é real sem considerar se o que é ral é material ou não. Este conceito metafísico pressupõe um conhecimento detalhado do ser apoiando até mesmo em considerações sobre a prova da imaterialidade da alma humana. Não obstante nosso primeiro conceito é ainda confuso e precede de outros conceitos;
• Santo Tomas corrige a tese de Aristóteles em que a filosofia primeira não tem como sujeito a metafísica. O que é totalmente novo na maneira do qual Santo Toma afirma cientificamente a metafísica é que, por um lado, ele considera o conhecimento da existência das coisas imateriais como constituinte da condição para entrar na metafísica, sendo que por outro lado, ele sustenta resolutamente que o sujeito da metafísica não se limita ao ser imaterial mas engloba também as coisas materiais (coisas criadas);
• Tem-se a insistência do termo sujeito: graças a este termo, Santo Tomas indica que a metafísica considera o real como nós o encontramos e tal como ele o é em si mesmo. Santo Tomas não se contenta em corrigir Platão e Aristóteles. Eles consideraram o ser sobre um aspecto particular (um ser material). Estes filósofos descobriram a existência de princípios imutáveis e necessários, mas eles não experimentaram a dependência de todas as coisas em Deus;
• SCG I 26, 1 “Aquel argumento prueba que Dios es bienaventurado esencialmente; pero no que la bienaventuranza le corresponde por su esencia, sino más bien por razón del entendimiento”
• Santo Tomas utiliza a metafísica para demonstrar um ser esta em conformidade consigo mesmo tanto quanto ser humano ou ser psíquico). Santo Tomas promove uma ruptura com a tradição dando novos conteúdos para o sentido da metafísica. A metafísica de Santo Tomas torna o real compreensível na sua natureza mais profunda e na sua fonte última;
• Santo Tomas elaborou sua metafísica num clima cristão. Para explicar suas posições fundamentais procurou atribuir a sua metafísica ao processo da Revelação do Senhor. Não obstante fala-se de uma metafísica desenvolvida no contexto da doutrina da fé cristã;
• A metafísica é o estudo das causas ultimas do real. O valor supremo da metafísica reside justamente no fato de que ela procura o ultimo e a mais profunda verdade naquilo que é real. Ela nos dá o alimento do qual nós temos necessidade. Ela pode nos aproximar o mais possível de nossa “morada real”. E nos preparar a um conhecimento novo e superior do “SER PRIMEIRO”;
• A metafísica nos da o conhecimento mais profundo que seja acessível ao homem, da natureza de tudo o que existe. Ela nos faz capazes de conhecer o fim ultimo e o fim de todos os seres e suas atividades;
• Todos os homens procuram a perfeição e a felicidade. Ora, a verdade é a perfeição de nossa intelectualidade. Se a metafísica nos conduz a esta verdade a falta dela é uma ameaça para a vida do homem. Como todo o homem procura o conhecimento e a verdade, é por natureza, orientada pela metafísica, isto é, o homem é um animal metafísico.





TORREL, J. P., Santo Tomás de Aquino. Mestre Espiritual. São Paulo: Loyola, 2008.

ELDERS, L. J. La Métaphysique de Saint Thomas d’Aquin. Paris: Librairie Philosophique J. Vrin, 1994.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Deus criador: o homem criatura de decisão e resposta.

No antigo testamento o homem responde com a fé. A realidade era teocêntrica. No entanto a relação de Deus para com o homem situado na história.

A experiência do homem com Deus está no êxodo. A libertação do homem é a revelação de Deus. Da revelação tem-se a aliança do povo para com Deus. É o compromisso que se estabelece. Surge então a tradição javista, eloista, deuteronomista e sacerdotal.

Javista – tem a imagem de Abraão como a aliança feita a Deus em que todo o povo é abençoado. A benção concedida é a salvação para todo o povo. É ressaltada a obediência a Lei.

Eloista – apresenta um nível mais pessimista, pois, o povo de Deus tende a se afastar de Deus. Acentuam a importância da Lei para cumprimento da salvação.

Deuteronomista – A salvação é perpetuada com o cumprimento da Lei. A reforma de Josias (622ac) ajuda a conter outros cultos e a reforçar o reino de Deus pelas Leis.

Sacerdotal – Tem o objetivo de apresentar coragem, e esperança para quem se encontra exilado. Tem-se então atuação dos profetas no anuncio da ação divina.

A intenção dos profetas é denunciar aquilo que afasta dos objetivos de Deus: as praticas mágicas que atingiam a região de Israel; a Lei e o culto usado indevidamente corrompem com a pratica da salvação. A Lei e o culto passaram a ser comercializado esqueceram que a salvação é promovida por Deus. O culto e a Lei em si não promovem a salvação, mas Deus conduz a salvação; pertencer ao povo de Israel não era garantia de salvação, mesmo porque Deus é universal e pode se estender a todos os povos e a autonomia da sabedoria humana no plano da salvação
[1]. A realidade em que os profetas vivem torna-se dificultoso devido à nuança de ideais que surgem em Israel propiciando a desvalorização do sagrado na região da palestina.

Evidentemente que a mensagem de Deus anunciada pelos profetas denuncia as falácias contra Deus, no entanto promovem naqueles que aceitam a ação de Deus momentos de gratificação e de louvor. Isso podemos perceber pelos salmos e cânticos louvores a Deus criador que se revela em meio aos homens. Tais orações de louvor desprendem para uma concepção escatológica da obra salvadora de Deus na história da humanidade.

A sabedoria e a salvação de Deus. O sábio se aproxima de Deus. Há duas perspectivas de sabedoria: 1 – antes do exílio: a sabedoria era sinônimo de auto suficiência. A razão humana conduzia os atos do homem. Este por sua vez não tinha a intenção de ultrapassar os limites humanos para alcançar a Deus. O homem tira proveito de sua vida de acordo de como utiliza sua vida; 2 – pós exílio: o homem procura atenuar a racionalidade humana e depender da sabedoria que provem de Deus. O homem tende a aceitar os desígnios de Deus. Não há um apreço pela sabedoria existencial. No livro de Sabedoria a fé é aquela que conduz a salvação, no livro de Jó o homem deposita sua confiança em Deus e não na realidade existente. E, no livro de Eclesiastes sábio é aquele que se aproxima do Senhor abdicando da realidade existência que impede que o homem se aproxime de Deus.

Desponta um interesse pelo futuro. Os incentivadores deste momento escatológico são os profetas. Eles criticam a situação atual de Israel e pede a esperança no Deus que salva. O mundo para eles já esta corrompido pelo pecado e por injustiças. A intenção é esperar pela Jerusalém celeste, pois a Jerusalém terrestre já se encontra pervertida pelas ações humanas.

No Antigo Testamento a revelação de Deus é um processo de eleição aliança. Eleição de Israel e aliança com este povo escolhido. Deus escolhe Israel por amor e misericórdia. A aliança é feita pela figura de Noé e Abraão em que o povo eleito, aceitando a salvação divina se submete as vontades de Deus no compromisso a este Deus que se manifesta
[2]. Pela eleição o homem é submetido principalmente pela decisão em estar com Deus. O homem passa a refletir pela sua situação de não salvação para a condição de salvação em Deus. Uma vida submetida às vontades de Deus gera compromisso e responsabilidade. Isso é a característica da fé Javista a obediência do homem a Deus. Acentua-se nesse momento da eleição e aliança a historia das decisões: o homem se decide por comprometer-se a Deus. O compromisso do homem para com Deus está para uma relação de diálogo entre ambos. Este diálogo pode ser estabelecido no culto como um momento de aceitação as vontades de Deus.

Ressalta-se a importância do tempo na vida do homem. O tempo o caracteriza como inserido na história. Deus se revela na história e assim sendo o homem pode aceitar ou não o compromisso em servir a Deus. O homem é um ser de decisão porque está inserido na história e tendo Deus inserido na história o homem pode estar no nível de decidir por sua ação comprometendo-se ou não por estar com Deus.

A fé do povo de Deus tem sua centralidade na salvação da humanidade. G. Von Rad afirma que o povo de Deus presumiu a salvação de todo o povo como elemento prioritário, de maior importância do que a concepção primeira de um Deus criador. Este elemento teológico teve um progresso na vida do povo de Deus para depois despontar para uma concepção de criação. Não obstante, especialistas afirmam uma estrutura em que a idéia de criação foi prioritária para o povo de Israel.

Uma tese afirma que o povo de Israel poderia aderir à idéia de um Deus que primeiramente cria e depois salva a humanidade. Grupos nômades trafegavam a região de Israel. Estes grupos tinham cada qual seu deus (El). Com efeito, tinha-se o culto num deus criador que atendia as necessidades de cada grupo existente. Não obstante, Baal era uma outra denominação que era cultuado como defensor do tempo e dos animais e plantas. Devido à libertação do jugo do Egito o povo eleito segue para a região de Israel da qual se encontram cultos a El e a Baal. Consequentemente, Iahweh, o Deus de Israel, poderia ter sido influenciado pelas perspectivas existentes na região e ter acentuado no povo eleito considerações de criação e depois de salvação para a humanidade.

Os profetas acentuam a importância do ato criado de Deus e consequentemente a salvação da humanidade. A criação e a salvação devem estar unidas. É o evento escatológica que é ressaltado para que toda a humanidade possa estar redimida pela ação de Deus que se faz história na história da humanidade.

Na narrativa sacerdotal encontramos com mais evidencia a ação de Deus como criador (Gn). Evidentemente que o Gn foi escrito após o exílio da Babilônia. Neste período de exílio, o povo de Israel também teve contatos com crenças que compunham a obra criadora de outros deuses. Marduk levaria a cabo da obra criadora após lutar e derrotar Tiamat. Tais perspectivas, o povo de Israel teve contato durante o exílio o que pode ter influenciado a concepção criadora de Deus.

Nos escritos sacerdotais podemos perceber o processo evolutivo do processo da criação:
Pressupostos etiológicos: mitos/saga; o mito/saga corresponde a um significado
[3]; a ação criadora se procede no tempo da história; a separação entre o mundo e o caos, a luz não é a divindade, mas a atuação de Deus no mundo; a criação teria seu processo pela palavra de Deus e consequentemente sua revelação e, por ultimo, Deus nomeia as coisas, condição que para os semitas a nomeação representava domínio sobre as mesmas.

O conteúdo narrativo de Gn 1, 1-25 é a idéia de um Deus criador, acima do mundo, ato salvífico de Deus, o homem apto a responder a Deus, a relação tem uma relação intima com Deus, o mundo espera plena plenitude de Deus (escatologia), o mundo é bom porque corresponde ao ato criador e salvífico de Deus, acentua-se a liberdade na criação.

Também na literatura sapiencial o sábio faz reflexão à criação quando o sabio percebe a manifestação de Deus nas coisa criadas e concebe a obra salvífica atuando no mundo.

Os israelitas acreditavam num mundo em que fora sido criado do nada. A esperança do povo de Israel foi alimentada pela fé no Deus salva todo o mundo.

Em Gn 2-3 a narração javista Deus é criador do mundo, apresenta à humanidade o paraíso, mas com a liberdade do homem em querer esta no paraíso. O homem é o sujeito primário que se afasta de Deus pela liberdade e, não Deus que se afasta da humanidade.

Gn 2,4b-25 tem-se a criação do homem (antropologia). Para que a terra não ficasse desabitada Deus criou o homem e os animais. O homem seria aquele que conhece a natureza e torna-se responsável pelo seu sustento. A proibição do fruto é para o bem da humanidade. A criação da mulher é para ser companheira, igual o homem sem submissão. A criação do homem é para ter uma relação com Deus, com os animais, com os outros, e com a natureza. Tem-se por fim a limitação humana do qual o homem é considerado criatura e não da mesma igualdade do que Deus e, não obstante, a decisão do homem em assumir sua limitação perante Deus Criador.

Consideração sacerdotal de Gn 1,26ss afirma um Deus criador de toda a humanidade tendo esta humanidade capacidade de escutar e responder os apelos de Deus. O homem é co-criador do mundo, compartilha e participa no mundo. Não é dominador, mas, participador no mundo. Se o homem dominasse a natureza seria semelhante a um animal. Eis o motivo pelo qual são criados o homem e a mulher, para serem participantes de toda a criação. O homem e a mulher administram o mundo criado. A semelhança que é ressaltada no texto entre o homem e Deus é interpretada como uma aproximação da criatura com o Criador.

Na narrativa sacerdotal tem-se o término da criação no Sábado. O sábado é o coroamento de toda a criação. Este dia é considerado como santo, o Dia do Senhor. É o dia da benção do Senhor, presença de Deus, santificação e libertação.

Características de Gn 1 e 2: homem é criatura, de interpelação (decisão) e resposta, ser limitado (terreno), homem e mulher são co-criadores, administradores e responsáveis pelo mundo, o homem é bom por ser criatura de Deus, homem ser de diálogo com a criação e a salvação e, por fim, o homem também repousa em celebração ao culto ao Senhor.




Referência Bibliográfica
RUBIO, A.G., Unidade na Pluralidade. São Paulo: Paulus, 2001, pp. 117-178.


[1] “As criticas proféticas contra a falsa segurança dos cultos mágicos, contra o apego ao culto da lei, separados do compromisso ético, contra o engano do nacionalismo orgulhoso e contra a falácia da sabedoria humana desconectada da sabedoria divina estão unidas aos violentos ataques proferidos contra os pecados dos dirigentes de Israel e do mesmo povo: o embotamento ético dos ricos, despreocupados na sua vida luxuosa e auto complacente; a ganância dos grandes proprietários de terras; a corrupção dos juízes e anciãos, a desonestidade dos comerciantes; a mentira dos sacerdotes e dos profetas da corte; os crimes de todo o tipo perpretados pelo povo em seu conjunto”. (cf. RUBIO, A.G., Unidade na Pluralidade. São Paulo: Paulus, 2001, pp. 130).
[2] “Iahweh intervém nos acontecimentos da historia do povo, escolhe-o livremente e, com a mesma liberdade, se associa de maneira permanente a este povo; por sua vez, o povo (e cada homem) é chamado a aceitar e a viver a eleição bem como a obediência as obrigações decorrentes do compromisso assumido com Iahweh” (cf. RUBIO, A.G., Unidade na Pluralidade. São Paulo: Paulus, 2001, pp. 140).

[3] “O mito tem também a sua verdade e constitui uma maneira do homem se aproximar da realidade. O mito pode levar o homem a entrar em conexão com as experiências mais originarias da humanidade... a intencionalidade do mito não está dirigida a historicidade do relato, mas ao seu significado. É sobre este significado, dentro de um determinado universo simbólico que recai a verdade do mito, uma verdade sempre existencial, pois o conteúdo significativo do mito está carregado de conseqüências vitais para o existir humano presente e futuro. Concluindo, o mito ... é também um meio de explicação da realidade com sua hermenêutica própria. Assim ninguém deveria ficar alarmado pelo fato de que os relatos bíblicos sobre a criação utilizem material mítico” (cf. RUBIO, A.G., Unidade na Pluralidade. São Paulo: Paulus, 2001, pp. 152).

domingo, 4 de janeiro de 2009

Doze místicos cristãos - Parte III

São Tomás de Aquino

Para São Tomás de Aquino toda a humanidade espera em Deus, o fim ultimo da humanidade é Deus. Deus torna-se o fim absoluto de todo o homem. A sociedade se desenvolve e os conventos se estabelecem nas cidades. Desta forma os monges podem se aproximar cada vez mais das pessoas e consequentemente da civilização. Dentro deste contesto os monges adotam o carisma da fraternidade. A ajuda aos outros é o reflexo do amor de Deus que se manifesta na história da humanidade. A contemplação, por sua vez, impulsiona a fraternidade. É somente pela contemplação que a humanidade pode se aproximar das vontades de Deus e ser solidários na ajuda ao próximo. O homem para São Tomas de Aquino tende a teologia da sabedoria, isto é, o sábio de Deus. Ser sábio é buscar pela verdade e, a verdade nada mais é do que Deus revelado na pessoa de Cristo. Conhecer a verdade é conhecer a Cristo e testemunhar a ação divina na comunidade. Este testemunhar conduz ação de conhecer a Deus pela palavra de Deus. A escritura é o alicerce da fé cristã. A proclamação da palavra é o testemunho de fé do cristão que revela este Deus amoroso. Mas o que responde este amor do homem para com Deus? A inteligência e a vontade humana ou a fé e o amor? Evidentemente que o homem com a sua inteligência busca o amor de Deus. Tem-se o consentimento às vontades de Deus À fé e o amor de Deus. Mas, para que se tenha o consentimento, o homem terá de ter uma vida contemplativa, de oração para que cada vez mais possa se aproximar de Deus e do próximo.



Santo Inácio de Loiola

Segundo Rahner, a intenção de Inácio pela Companhia fundada era de “ajudar as almas”. A mística de Sto. Inácio se encontra relatada nas obras: peregrino e exercícios espirituais. O ser humano tem um caminho para aproximar-se de Deus. O fundamento deste caminho é Deus. Deus é o principio e fundamento do ser humano. As respostas do homem e suas necessidades têm como alicerce o próprio Cristo. A mística de Santo Inácio tem seu inicio pela vida dos santos, assim, começa sua vida religiosa. De princípio tem a idéia de ser cartuxo, percebe que para a vida requer mudanças, aponta a necessidade de conversão, o desprendimento de bens, uma peregrinação ao Senhor, devoção a Maria e penitência. O ápice da mística de Inácio é a paz interior, grises na vida e os dons recebidos. Este processo é uma purificação ao Senhor. A mística de Santo Inácio conduz a pessoa a ver a transfiguração do mundo, o despertar de um sonho, fazendo a experiência de Deus. A experiência de Deus é o conhecimento interior que adere às vontades de Deus. Experiências de Deus são cinco: Santíssima Trindade, criação do mundo (natureza), eucaristia, humanidade de Jesus, entendimento pela fé e pelas coisas (ilustração, iluminado, luz que permite ver, a fé permite ver a obra da criação). Assim, as experiências conduzem a Deus pela contemplação.


Santa Teresa

Mística de grande repercussão e aprofundamento na contemplação no Senhor. Afirma as três mercês com o fundamento de sua mística: união, graça e testemunho. Por ocasião da morte da mãe Santa Teresa passa a mora num convento de agostinianas. Tem-se então sua conversão e uma experiência de Deus. A experiência de Deus se realiza na natureza. O homem esta apto a conceber este Deus que se encontra na natureza. Santa Teresa aponta uma vida de contemplação, tendo como lema: “faça-se sua vontade”. Evidentemente que para uma vida de contemplação existem algumas determinações: tais determinações iniciam a vida de oração. Oração trata de amizade com aqueles que sabemos quem nos ama. A essência da oração é por em ação o amor de Deus. Este amor de Deus é revelado pela pessoa de Cristo encarnado. O mistério de Deus é comunicado em Cristo. Desta forma, a pessoa pode graus da oração: água tirada com esforço (dificuldades), do poço quietude (empenho), fonte de um rio inunda (graça superabundante de Deus), chover união (Deus de comunhão). A água é retratada na pessoa de Jesus. Assim, a intenção da oração é uma resposta ao amor de Deus.


VELASCO, Juan Martin. Doze Místicos Cristãos. Petrópolis: Vozes, 2003, pp. 87-132.