domingo, 25 de janeiro de 2009

Metafísica e teologia

• Santo Tomas aproxima a metafísica da teologia, porém a teologia de Santo Tomas está inserida no contexto da Sacra Doctrina. O que seria a Sacra Doctrina? É a própria ação de ensinar e o que se ensina sobre Deus, Revelação, Trindade, Tradição e a pregação de Igreja e tem seu fundamento na Sagrada Escritura. A Sacra Doctrina tem seu desenvolvimento na linha especulativa: esforço da inteligência a fé; histórico positiva: progressos da exegese e patrologia e a linha mística: demonstração de piedades;
• A teologia é, antes de tudo, uma expressão de vida teologal em atividades em que as virtudes da fé, esperança e caridade são exercidas plenamente. Para isso requer a fé como condutor de uma boa vida cristã. Para Santo Tomas à Bíblia requer essa adesão vital de toda a pessoa à realidade divina que se manifesta em nós;
• A teologia e a fé exercem uma relação da qual o homem não pode dissociar Esta é a razão de ser de todo o homem. Sem a fé não teria justificação. A fé é a capacidade da qual o homem pode alcançar a realidade divina. O ato do cristão não termina na coisa em si, mas, somente, em Deus. São Tomé é o exemplo de cristão, que com sua fé, exerce o propósito em aproximar-se de Deus. É a partir o momento em que cai de joelhos aos pés do Ressuscitado que lhe mostra suas chagas, o apóstolo Tomé, o incrédulo, torna-se de imediato um bom teólogo;
• A fé é animada por desejo ardente que procede do Amor. É animada pelo desejo do bem prometido que impele a pessoa crer na verdade divina. Se a fé não se concebe sem o amor, é que ela não se dirige a uma verdade abstrata, mas a uma pessoa na qual Bem e Verdade se identificam. A Verdade primeira que é o objeto da fé é também o Bem supremo objeto de todos os desejos e de todo o agir do homem;
• Para Aristóteles as coisas concretas são evidentes ao homem e isso é chamado de “princípios”. Santo Tomas utiliza esses “princípios” e insere um termo chave de seu pensamento “verdade-conclusão” Um exemplo disso é a própria pessoa de Jesus em que é um “princípio”, mas, ao mesmo tempo é uma “verdade-conclusão” desta forma é fácil perceber o ser numa dimensão escatológica. O teólogo é conduzido a todo o processo de saber concreto que ao fim de sua busca é irresistivelmente conduzido para Aquele que é o fim último de sua vida de fé;
• Quando Santo Tomas explicita a realidade divina, este fala de Deus como sujeito da teologia. Deus é o Principio e o Fim, o Alfa e o Omega. Mas, para entendermos o significado do termo sujeito, temos que analisarmos o conceito de objeto e sujeito que fora empregado para entendermos o que foi empregado por Santo Tomas. Outrora a Santo Tomas, o sujeito era a realidade mental do homem e o objeto a realidade exterior em que o homem apreende com a razão. Santo Tomas inverte esta concepção. Deus é considerado o sujeito e o homem (a razão humana, o objeto) isso porque Deus jamais pode se reduzir a um objeto. Deus é o fim ultimo que o homem deve atingir. O teólogo jamais pode esquecer que o sujeito de seu saber, o fim que persegue, é o conhecimento do Deus vivo da história da salvação;
• Deus é o sujeito da teologia. Não é as coisas criadas das quais devemos recorrer, mas, a iniciativa de Deus em seu amor misericordioso. De modo algum a Igreja pode explicar-se a si mesma, deve-se voltar para Aquele que é a Cabeça, Cristo, e ele em sua humanidade é o enviado do Pai e da Trindade;
• Evidentemente que toda a ação de Deus na vida do homem requer uma adesão. Essa adesão é uma tendência para a participação na vida de Deus. Santo Tomas chama essa tendência do homem de habitus (hábito). O Dom divino inteiramente gratuito age no ser humano, aperfeiçoando a capacidade natural a altura de relacionar-se com Deus. É a graça divina que impera na pessoa humana para que cada um possa se dispor as vontades de Deus;
• Desta forma permite-nos perceber a teologia de duas formas: a teologia enquanto a razão animada pela fé, sendo, uma ciência piedosa, penetrada na caridade. A teologia não deve ser morta, pois isso seria anormal, mas, contemplativa e orante. Acrescenta-se aqui outra característica da teologia: exercício da oração. Por outro lado, a teologia tem sua dimensão escatológica. É a fé e a caridade que promovem a esperança. Todo o ser humano participa do conhecimento divino, pois o homem adere-se pela fé à verdade primeira;
• Assim, descreve-se uma teologia espiritualista em que o ser criado tende a aproximar-se do Divino. A espiritualidade é a realidade vivida por determinada pessoa em que a qualidade de vida é levada sob a moção do Espírito. O Espírito Santo age no homem e este se deixa conduzir as obras de caridade. Cristo é o exemplo perfeito em que encontra uma espiritualidade plena. A espiritualidade de fato nos torna mais humanos e aptos a perceber no outro a pessoa de Cristo. É por isso que na teologia não se pode dissociar a realidade concreta do “meta-físico”, isso porque o agir humano mesmo com sua realidade existencial contribui para um aproximar-se de Deus.

Referências

TORREL, J. P., Santo Tomás de Aquino. Mestre Espiritual. São Paulo: Loyola, 2008.

ELDERS, L. J. La Métaphysique de Saint Thomas d’Aquin. Paris: Librairie Philosophique J. Vrin, 1994.

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