domingo, 28 de junho de 2009

4 – A paixão, morte e ressurreição de Cristo

4 – A paixão, morte e ressurreição de Cristo

Paulo apresenta o momento decisivo do plano divino da salvação que foi alcançado, na paixão, morte e ressurreição de Cristo. Paulo viu a paixão e morte de Jesus como prelúdio da ressurreição. As três etapas completam “o sentido da cruz” (1Cor 1,18), pois foi o “Senhor da Glória” que foi crucificado (1Cor 2,8). A ressurreição de Cristo (Kyrios) foi uma vitória sobre todas as coisas mesmo sendo humilhado e sujeito aos poderes da terra[1]. (Fl 2,10-11). “Aquele que morreu” é o mesmo “que ressuscitou” (Rm 8,34 “Quem os condenará? Cristo Jesus, que morreu, ou melhor, que ressuscitou que está à mão direita de Deus, é quem intercede por nós!”). A obediência de Cristo se procede mais evidentemente, nas últimas etapas: paixão, morte e ressurreição (Rm 5,19), e é nessa obediência, que Jesus se manifesta mais como “Filho”. Muitas vezes, Paulo descreve a redenção do homem como iniciativa gratuita do Pai, o qual ama o homem apesar do pecado, mas sempre deixa clara a cooperação de Cristo, livre e amorosa, na execução do plano do Pai (Ef 5,2 “Progredi na caridade, segundo o exemplo de Cristo, que nos amou e por nós se entregou a Deus como oferenda e sacrifício de agradável odor”). Foi “nosso Senhor, Jesus Cristo, que se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, a fim de nos subtrair ao mundo maligno em que vivemos” (Gl 1,4).



[1] “Só a ressurreição de Jesus deixa manifesto aos crentes que Deus admite sua divindade justamente na paixão, na extrema derrota e impotência deste homem. A paixão dá a conhecer quem é este Crucificado e quem é este Deus nele”. (cf. Hans KESSLER, La resurreccion de Jesus. pp. 263-264).

domingo, 21 de junho de 2009

3.2 – Maria, Nova Eva .

3.2 – Maria, Nova Eva .
Criados à imagem de Deus, para partilharem, como filhos, a intimidade do próprio Deus, o homem e a mulher afastam-se desse ideal, atraídos por uma imagem de uma felicidade mais fácil e mais imediata. Podemos perceber o papel da mulher nessa relação, no processo de redenção de toda a humanidade. O pecado de Adão e Eva constitui a grande humilhação para a humanidade. Por isso, a humanidade passa a estar, no centro de todo o sofrer, e, na busca incessante de um retorno a Deus.
Depois do seu pecado e de sua condenação à morte, Adão deu à mulher “tirada do homem” e “feita por Deus”, segundo Gn 2,22, um nome carregado de esperança. O homem e a mulher se completam. A complementaridade do homem e da mulher é o reflexo da comunhão com o próprio criador. Dessa forma, o anjo teve inveja dessa amizade entre a humanidade e Deus. Com corrupção e falsidade, o anjo mensageiro enganou, miseravelmente, Eva que se deixou seduzir e foi levada a desobedecer às vontades de Deus. A serpente queria corromper a comunhão com Deus. Eva, seguindo o conselho da serpente, foi incrédula, desobedecendo a Deus (2Cor 11,3 “Mas temo que, como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim se corrompam os vossos pensamentos e se apartem da sinceridade para com Cristo”). Devido à desobediência e à incredulidade de Adão e Eva, tiveram a morte como preço à transgressão cometida. O demônio queria introduzir a inimizade entre Deus e o gênero humano. Deus disse à serpente: “Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela. Esta te esmagará a cabeça e tu a atingirás no calcanhar”. De fato, a criação foi desviada e o homem perdeu a intimidade com seu criador. O pecado entrou, no mundo, devido à desobediência de Adão e Eva.
É propriamente, nesse contexto, que a Nova Aliança em Cristo, Maria tem seu papel, no plano salvífico em paralelo com Eva (Gl 4,4 “Mas quando veio à plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, que nasceu de uma mulher e nasceu submetido a uma lei”). É neste paralelo, que de fato se exprime a economia da salvação . Eva foi associada de modo único a Adão, o primeiro modelo, e Maria foi posta, ela também de modo único e insubstituível ao lado de Cristo, figura daquele que devia vir. Tal é o pensamento de São Paulo, mostrando a superioridade de Cristo. Tal consideração coloca Maria em ênfase depois do Novo Adão, obtém toda a comparação possível com Eva. Maria a Eva deve ser entendida, numa missão da mesma forma que Cristo com relação a Adão. Eva e Maria são sempre apresentadas, uma no momento da tentação da serpente, e outra na anunciação.
Maria opõe sua obediência por sua fé, na palavra da verdade à desobediência e incredulidade de Eva . Assim, por sua desobediência, Eva torna-se causa de morte para ela mesma e para todo o gênero humano, da mesma forma, Maria torna-se causa de salvação para ela mesma e para todo o gênero humano, depois de Cristo Novo Adão. Por seus atos, parece claramente que Eva se apresenta como antípoda de Maria, da mesma maneira que Adão se apresenta como a antípoda de Cristo. Pela pessoa de Cristo, o Redentor de toda a humanidade , e pela livre obediência à Palavra de Deus, Maria torna-se a advogada de Eva e conseqüentemente de toda a humanidade .

domingo, 14 de junho de 2009

3.1 - A graça do novo Adão

3.1 - A graça do novo Adão

No capítulo 5 do livro de Romanos, aparece um claro contraste entre Adão e Cristo e as implicações de seus atos para toda a humanidade. Adão, o primeiro homem, foi a cabeça divinamente nomeada da humanidade inteira, e o pecado dele fez com que todos aqueles a quem representava experimentassem a morte espiritual. “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.” (Rm 5,12). Quando Adão pecou, ele comprometeu toda a sua descendência. A linhagem do primeiro homem passou a gerar o pecado na humanidade. A vida que se recebe de Adão é uma vida de pecado.

Porém, Deus já havia destinado, antes da fundação do mundo, algo superior: o Segundo Homem, Cristo, para ser a nova cabeça da humanidade a fim de cumprir o seu propósito eterno. “No entanto a morte reinou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir.” (Rm 5,14). Adão era a prefiguração daquele que haveria de vir, o Messias, o Novo Homem, Cristo. A humanidade foi constituída pecadora pela desobediência de um só homem, Adão. Da mesma forma, somos constituídos justos em Cristo, mediante a sua obediência. Assim como o pecado, a justificação também veio “por meio de um só” (Rm 5,16-18). “Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”. (Rm 5,19). Portanto, Cristo tornou-se a Nova Cabeça; raiz espiritual da nova humanidade.

Em Cristo, a humanidade se encontra novamente com Deus. Tem-se uma nova relação com o Criador. Uma condição que fora interrompida por Adão. A humanidade, relacionando-se com Deus faz uma relação promovida pelo Espírito. O “Espírito de Cristo”, o “Espírito vivificante” é aquele que impulsiona a humanidade a aproximar-se de Deus. Cristo, com sua morte e ressurreição, permite a efusão do Espírito em toda a humanidade, reabrindo a esta toda a graça de Deus que outrora se atenuara pela pessoa de Adão[1].

Em 1Coríntios 15,45-47, Paulo traça um paralelo entre Adão e Cristo. “Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante. Mas não é primeiro o espiritual, e sim o natural; depois, o espiritual. O primeiro homem, formado da terra, é terreno; o segundo homem é do céu”. Como último Adão, Cristo é a soma total da humanidade, como o segundo homem, Ele é a Cabeça de uma nova geração[2].

O “Espírito vivificante” se opõe a toda ação criada pela mão humana (pecado). A glorificação de Cristo dá acesso a toda a humanidade a ter a vida novamente em Deus. Na pessoa de Cristo, Deus realiza o projeto do qual o primeiro homem não foi capaz de cumprir. A restauração da humanidade foi confiada à pessoa de Cristo o qual se tornou o Novo Adão.

Assim, Romanos 5,20-21 diz: “mas onde abundou o pecado, superabundou a graça, a fim de que, como o pecado reinou pela morte, assim também reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor”. É por causa de Jesus Cristo que a graça e o dom de Deus podem ser concedidos a todos os homens. Também é devido a Ele que podemos reinar em vida, pois Nele, temos todo o suprimento necessário.



[1] “Este pensamento de Paulo sobre o “Espírito vivificante” permite explicar certos textos nos quais ele parece identificar Cristo ao Espírito, como 2Cor 3,17. Ressuscitado pelo Espírito e animado por sua vida, o corpo ressuscitado de Cristo é para o cristão fonte do Espírito, tanto que para o crente receber o Cristo ou receber o Espírito é, de certa maneira, a mesma coisa”. (cf. Jurgen BECKER, Apóstolo Paulo. Vida, obra e teologia. São Paulo: Editora Academia Cristã, 2007, pp. 71).

[2] “...por causa de um só homem, Adão, toda a humanidade é chamada a morrer; por um só homem, Cristo, todos são destinados a reviver. Em Adão, isto é, em dependência dele, pelo fato de ele incorporar toda a humanidade a título de antepassado e cabeça, está determinado a sorte de todos; e o indicativo presente: ‘todos morrem em Adão’ marca bem que hoje ainda, a morte é o salário da atitude de Adão pecador. Pela mesma razão, todos aqueles que estão unidos a Cristo são solidários a seu destino, pois Ele é o seu cabeça: n’Ele toma origem uma humanidade nova, e é n’Ele que ressuscitarão...” (cf. Jurgen BECKER, Apóstolo Paulo. Vida, obra e teologia. pp. 57-59).

domingo, 7 de junho de 2009

3 - O pecado

3 - O pecado
Os homens, já como pecadores, antes de Cristo, faziam esforços para viverem, na justiça. Mas devido ao pecado, jamais conseguiam alcançar a graça que lhes estava reservado . É severa a acusação de Paulo à impiedade e à malícia dos gentios a qual recusava a verdade em suas próprias vidas . No pensamento de Paulo, o homem não conhecendo a Deus se rende ao pecado, sendo submisso à escravidão do mesmo. “Quando não conhecíeis a Deus, vós éreis escravos dos deuses, que, por sua natureza, não são deuses. Agora como é que podeis voltar outra vez a estes débeis e mesquinhos elementos?” (Gl 4,8-9). Esse estado de servidão não lhes permitiu reconhecer a degradação da própria conduta (1Cor 6,9-11

“Acaso não sabeis que os injustos não hão de possuir o Reino de Deus? Não vos enganeis: nem os impuros, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os devassos, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os difamadores, nem os assaltantes hão de possuir o Reino de Deus. Ao menos, alguns de vós têm sido isso. Mas fostes lavados, mas fostes santificados, mas fostes justificados, em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus”.


A acusação de Paulo contra os judeus é consistente, pelo fato de se gloriarem da posse da Lei mosaica, como manifestação expressa da vontade de Javé e, no entanto, não a observarem. Nem a circuncisão nem os oráculos da salvação poderão libertá-los da ira divina (Rm 2,1-3:8

“Assim, és inescusável, ó homem, quem quer que sejas que te arvoras em juiz. Naquilo que julgas a outrem, a ti mesmo te condenas; pois tu, que julgas, fazes as mesmas coisas que eles. Ora, sabemos que o juízo de Deus contra aqueles que fazem tais coisas corresponde à verdade. Tu, ó homem, que julgas os que praticam tais coisas, mas as cometem também, pensas que escaparás ao juízo de Deus?”.


Sem o Evangelho, toda a raça humana, “judeus e gentios estão todos sob o império do pecado” (Rm 3,9), encontrando-se todos, numa condição de hostilidade para com Deus , sem o honrar e servir , sem venerar o nome divino . Sua condição é de desconhecidos de Deus e de servos de satã , uma espécie de “morte ”.
O homem, pecando, comete transgressões , faltas e pecados . Mas o pecado é uma influência ativa e má, na vida do homem, penetrando toda a sua história. Pecado e morte são personificados por Paulo, são atores, no palco da história do homem. O pecado foi introduzido, na história da humanidade, pela transgressão de Adão e trouxe a morte como conseqüência (em sentido total: morte física que leva à morte espiritual).
Paulo atribui a morte a uma herança, ao pecado de Adão . Paulo fala da morte total, a qual inclui, a morte física. A relação entre a morte e Adão é explicada, em Rm 5,12, em que a morte de todos é atribuída ao pecado de Adão. “Como por um só homem entrou o pecado, no mundo e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”. Assim, Paulo atribui a Adão não somente a morte total, a qual afeta todos os homens, mas o pecado o qual também afeta todos os homens, independentemente de transgressões pessoais. E o contexto ainda se torna mais claro com os versículos 13 e seguintes e, sobretudo com o 19: “...assim como pela desobediência de um só homem todos foram constituídos pecadores, assim também, pela obediência de um só, todos serão constituídos justos”. O contraste entre, Cristo e Adão, já afirmaria que a condição de pecado de todos os homens é devido a Adão, independentemente dos pecados pessoais, os quais também levam à morte, da mesma forma que a condição de justiça é devida a Cristo somente.