3.1 - A graça do novo Adão
No capítulo 5 do livro de Romanos, aparece um claro contraste entre Adão e Cristo e as implicações de seus atos para toda a humanidade. Adão, o primeiro homem, foi a cabeça divinamente nomeada da humanidade inteira, e o pecado dele fez com que todos aqueles a quem representava experimentassem a morte espiritual. “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.” (Rm 5,12). Quando Adão pecou, ele comprometeu toda a sua descendência. A linhagem do primeiro homem passou a gerar o pecado na humanidade. A vida que se recebe de Adão é uma vida de pecado.
Porém, Deus já havia destinado, antes da fundação do mundo, algo superior: o Segundo Homem, Cristo, para ser a nova cabeça da humanidade a fim de cumprir o seu propósito eterno. “No entanto a morte reinou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir.” (Rm 5,14). Adão era a prefiguração daquele que haveria de vir, o Messias, o Novo Homem, Cristo. A humanidade foi constituída pecadora pela desobediência de um só homem, Adão. Da mesma forma, somos constituídos justos em Cristo, mediante a sua obediência. Assim como o pecado, a justificação também veio “por meio de um só” (Rm 5,16-18). “Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”. (Rm 5,19). Portanto, Cristo tornou-se a Nova Cabeça; raiz espiritual da nova humanidade.
Em Cristo, a humanidade se encontra novamente com Deus. Tem-se uma nova relação com o Criador. Uma condição que fora interrompida por Adão. A humanidade, relacionando-se com Deus faz uma relação promovida pelo Espírito. O “Espírito de Cristo”, o “Espírito vivificante” é aquele que impulsiona a humanidade a aproximar-se de Deus. Cristo, com sua morte e ressurreição, permite a efusão do Espírito em toda a humanidade, reabrindo a esta toda a graça de Deus que outrora se atenuara pela pessoa de Adão[1].
Em 1Coríntios 15,45-47, Paulo traça um paralelo entre Adão e Cristo. “Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante. Mas não é primeiro o espiritual, e sim o natural; depois, o espiritual. O primeiro homem, formado da terra, é terreno; o segundo homem é do céu”. Como último Adão, Cristo é a soma total da humanidade, como o segundo homem, Ele é a Cabeça de uma nova geração[2].
O “Espírito vivificante” se opõe a toda ação criada pela mão humana (pecado). A glorificação de Cristo dá acesso a toda a humanidade a ter a vida novamente
Assim, Romanos 5,20-21 diz: “mas onde abundou o pecado, superabundou a graça, a fim de que, como o pecado reinou pela morte, assim também reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor”. É por causa de Jesus Cristo que a graça e o dom de Deus podem ser concedidos a todos os homens. Também é devido a Ele que podemos reinar em vida, pois Nele, temos todo o suprimento necessário.
[1] “Este pensamento de Paulo sobre o “Espírito vivificante” permite explicar certos textos nos quais ele parece identificar Cristo ao Espírito, como 2Cor 3,17. Ressuscitado pelo Espírito e animado por sua vida, o corpo ressuscitado de Cristo é para o cristão fonte do Espírito, tanto que para o crente receber o Cristo ou receber o Espírito é, de certa maneira, a mesma coisa”. (cf. Jurgen BECKER, Apóstolo Paulo. Vida, obra e teologia. São Paulo: Editora Academia Cristã, 2007, pp. 71).
[2] “...por causa de um só homem, Adão, toda a humanidade é chamada a morrer; por um só homem, Cristo, todos são destinados a reviver. Em Adão, isto é, em dependência dele, pelo fato de ele incorporar toda a humanidade a título de antepassado e cabeça, está determinado a sorte de todos; e o indicativo presente: ‘todos morrem em Adão’ marca bem que hoje ainda, a morte é o salário da atitude de Adão pecador. Pela mesma razão, todos aqueles que estão unidos a Cristo são solidários a seu destino, pois Ele é o seu cabeça: n’Ele toma origem uma humanidade nova, e é n’Ele que ressuscitarão...” (cf. Jurgen BECKER, Apóstolo Paulo. Vida, obra e teologia. pp. 57-59).
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