domingo, 28 de dezembro de 2008

Doze místicos cristãos - Parte II

São Bernardo

Monge cistercense teve uma vida monástica em que dedicou sua vida a meditação e a leitura da palavra de Deus. A experiência de Deus pra São Bernardo começa na liberdade que cada pessoa tem para aproximar-se de Deus. Livre, o homem alimenta sua fé em Deus na prática da caridade (amor) ao próximo. Outra consideração que ajuda na experiência divina é a leitura orante da palavra de Deus. Ouvir a palavra de Deus e obedecê-la promove a conversão de fiel em Cristo. Em que consiste a fé? A fé é o amor: amor a muitos e amar a si mesmo; amor é caridade para com os outros e amor não é interesse pessoal. O desejo que o homem tem por Deus é constante, não obstante, devido a limitação humana nunca alcançaremos a presença de Deus, senão somente a presença de espírito.


São Francisco de Assis

No século XIII uma pessoa que se tornou uma grande referencia para a mística foi São Francisco de Assis. São Francisco atribuiu para si a pessoa de Cristo, vivendo a pessoa de Cristo em sua vida. Cristo se tornou o maior fundamento para a vida de São Francisco. Configurou sua vida a Cristo. Cristo para São Francisco revela o Pai. É o mistério que se faz presença na humanidade. A revelação de Cristo transmite o amor do Pai a todas as coisas criadas. Tudo pertence a Deus e tudo canta o seu louvor. Não obstante, no homem reflete este amor de Deus que se projeta no próximo. Cristo promove no homem a experiência amorosa da fraternidade. É pela fraternidade que o homem transmite o amor solidário ao próximo. Consequentemente, São Francisco viu no pobre a presença de Cristo. Francisco, homem bem sucedido, abdica de sua vida habitual para manifestar o amor de Deus aqueles que necessitam. São Francisco se torna exemplo para a humanidade, pois exorta o louvor em todas as circunstancias. O cristão deve transmitir alegria e felicidade. A superação das dificuldades é o processo de renuncia de si mesmo e entrega pessoal a Deus.



São Boaventura

São Boaventura continuou a ação de São Francisco. Afirma que o homem tem um caminho a perseguir. Em outras religiões existem meios para conduzir-se a Deus, mas para Cristo tem-se um caminho a ser perseguido. Este caminho, diz São Boaventura é o itinerário de cada cristão para encontrar-se com Deus. Todas as criaturas devem proclamar louvores a Deus criador. Tudo foi criado por Deus. Desta forma, o homem pode perceber a ação de Deus na realidade. Isso se deve ao fato de que o homem possui sensibilidade, espírito e inteligência que permite perceber a ação de Deus no mundo e, também porque a mente humana está orientada para aproximar-se de Deus. Assim sendo, aproximar-se de Deus já é uma ascensão, mas requer uma purificação. O homem deve se conscientizar às obras de Deus e buscar a purificação da alma. Pois, só assim pode-se experimentar a graça divina que se encontra no interior de cada um.


VELASCO, Juan Martin. Doze Místicos Cristãos. Petrópolis: Vozes, 2003, pp. 47-86.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Doze misticos cristãos - Parte I

São Paulo

Paulo é considerado um místico, apesar de muitos estudiosos observarem a teologia paulina apenas num contexto cientifico-teológico. O misticismo paulino não é acentuado devido a grande procura pela teologia paulina ofuscada atrás de seus textos. Paulo é considerado um místico, pois rende-se a pessoa de Cristo. Da conversão de Paulo tem-se a grande resposta pela fé em Jesus Cristo. A fé é a adesão, a aceitação deste Deus que se faz presença na humanidade. O amor de Deus é refletido no interior de cada pessoa. Assim, cada pessoa tem o amor de Deus em seu interior e o transmite na comunidade. O amor une, vivifica, promove a comunhão. Por fim, a esperança é a condição pela qual o homem transcende este amor a Deus, busca-se a Deus. Jesus retornará. E isso ocorrerá porque em Deus tem o amor. A esperança é a ocasião de vida em abundancia em Cristo. É a total comunhão dos homens para com Deus no momento da parusia.


São Gregório de Nissa

São Gregório de Nissa faz uma interpretação de sua mística pela obra Cântico dos Cânticos. Neste livro tem-se a ressalva aos valores da humanidade: o homem com seus desejos e amores recíprocos. A reciprocidade de cada um reflete numa união entre duas pessoas. Gregório de Nissa usa esta união para apresentar uma união da humanidade para com Deus. O homem em si sempre está em busca de Deus, contemplar a Deus. Deus é considerado para Gregório de Nissa como uma beleza, aquilo que é belo. Desta forma tem uma beleza ferida, pois, não é fácil contemplar o que se procura. Outro aspecto da mística de Gregório de Nissa é a figura de Moisés. Moisés foi aquele que despiu seus pés para estar na presença do sagrado na sarça ardente. A imagem da purificação é muito acentuada para São Gregório. Assim, se tem a imagem do dilúvio e do mar vermelho. Não obstante, para que se possa conhecer a Deus o homem teria de passar primeiramente pelas trevas, pois, Moises via Deus nas trevas. Com efeito, o homem tenderia em muito de buscar a Deus, ter o desejo de aproximar-se de Deus. O desejo do bem aproxima cada vez mais do bem. Seguir a Deus é ter uma vida virtuosa. Moises foi considerado servo de Deus por seguir a Deus. A noite é mais visível que o invisível.

Santo Agostinho

Para Santo Agostinho o homem tem o conhecimento por si mesmo da alma. A alma é o máximo daquilo que o homem poderia conhecer, é o limite humano. Eis, o questionamento de Santo Agostinho: Quem sou eu meu Deus? No interior do ser humano existe um mistério, uma inquietação. Isso procede porque Deus já se encontra no interior de cada pessoa e por isso o homem tende a querer estar na presença de Deus.
O mistério dentro de si leva o homem à ascensão por Deus. O mistério de Deus deixa a alma inquieta. A inquietação conduz o homem ao desejo de ser feliz: a busca pela felicidade. A limitação humana impede de ter á plenitude da felicidade. Deus é a fonte da felicidade. É por isso que o homem tende para a felicidade. Uma das circunstancias pelas quais, o homem tem dificuldade de se aproximar de Deus, é o pecado. O pecado não é da natureza humana, mas é uma condição do querer do homem em querer estar ou não com Deus. Assim, a liberdade é o consentimento do homem em querer abdicar o pecado para estar com Deus.




Referência Bibliográfica

VELASCO, Juan Martin. Doze Místicos Cristãos. Petrópolis: Vozes, 2003, pp. 11-46.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Os meios de transmissão de mensagem.

Os profetas escrevem para assegurar uma obra que valor importante. Os profetas tem a intenção de anunciar o futuro numa realidade em que enfrentam os poderosos criticando as injustiças da época. Segundo Zimmerli[1], os textos dos profetas têm a intenção de transmitir uma mensagem, testemunho de um povo e ataque a realidade existente.
O principal problema enfrentado quando se tem um dos livros proféticos em mãos é a sua formação. Os textos proféticos não foram escritos por uma pessoa apenas, mas, sim, por várias pessoas. A probabilidade é que foram escritos diversos textos num período e estes foram agrupados até formar um texto único. Alguns textos foram escritos primeiro e depois pronunciados. Evidentemente que há livros que foram elaborados após uma palavra falada, como por exemplo, o livro de Zacarias. Os profetas também tiveram seus discípulos e seguidores. Estes discípulos e seguidores contribuíram para a redação biográfica do mestre, reelaboração e criação de oráculos. Estes de seguidores tiveram o compromisso de acrescentar textos antigos e agrupá-los de acordo com o contexto de cada realidade. Não tiveram a intenção de separar os textos por ordem cronológica, mas por temáticas: oráculos de condenação ao próprio povo, às nações estrangeiras, a salvação do povo e a narrativa. Assim, os textos proféticos passaram por diversos retoques e alterações dificultando a interpretação de cada realidade existente.



Referencia Bibliográfica


SICRE, J.L., Profetismo e Israel, Petrópolis, vozes, 1996, pp. 173-181



[1] Zimmerli apud, SICRE, J.L., Profetismo e Israel, Petrópolis, vozes, 1996, pp.174

domingo, 7 de dezembro de 2008

Eclesiastes – Qohélet

Segundo a tradição dos judeus, o livro do Eclesiastes é atribuído a pessoa de Salomão. Passaram-se três séculos para que se pudesse reconhecer que o autor do livro do eclesiastes não fora Salomão, mas um sábio de sobrenome Qohélet.

Qohélet teria sido um judeu de Jerusalém de classe alta de esmerada educação e formação.

Qohélet fora um bom observador. “dediquei-me a investigar...Examinei todas as ações...Observei a tarefa que Deus impôs aos homens” (1,13-14; 3,10). Atribui-se a Qohélet um senso critico. Não se satisfaz o que lhe ensinaram desde pequeno na sinagoga, na escola, no templo. É constatado que Qohélet faz críticas à tradição da qual ele pertence. A data da obra (Eclesiastes) é possivelmente nos meados do século III próximo ao ano 200. O local onde se atribui a obra teria sido a Palestina com a capital Jerusalém.

O livro do Eclesiastes nasce de acordo com a realidade de seu tempo. Consideram Qohélet como um verdadeiro sábio que concilia as realidades existentes. Não obstante, o autor de Eclesiastes teria sido influenciado pela cultura grega. Pois Jerusalém naquela época já era influenciada pela cultura grega. Outras culturas também influenciaram a região de Israel e também inspirou o autor de Eclesiastes em sua literatura: mesopotamica e egípcia. Evidentemente que Qohélet em muito usufruiu da cultura tradicional de seu povo, pois ele conhecia muito bem os Livros Sagrados como o Pentateuco e a Torah.

A intenção de Qohélet é conscientizar o povo, apresentar ensinamentos críticos da realidade. Ele apresenta o termo HEBEL que significa: vaidade. HEBEL é um conceito importante, mas que não tem apenas um significado. HEBEL é a sentença mais importante do livro senão a mais famosa pela expressão VAIDADE DAS VAIDADES. Fora do contexto do Eclesiastes o termo HEBEL tem outros significados com: vento, sopro, aura, fumaça, brisa, vapor, transpiração, etc. “Porque o vento (RUAH) arrastará a todos, e um HEBEL, os arrebatará”. HEBEL neste contexto quer dizer sopro. O sentido original de HEBEL, por sua vez é RUAH (vento). Qohélet faz desse termo fonte de interpretação para muitas outras ocasiões:

HEBEL quer dizer: vaidade por riquezas. Qohélet afirma os bens que o homem consome e acumula no decorrer da vida. É o desejo incontrolável pelo dinheiro. O desejo de ter e possuir são efêmeros, por isso é vaidade;
HEBEL quer dizer: vaidade pela avareza. Neste contexto, Qohélet se refere ao rico que acumula e continua a acumular bens. Tal personagem não se contenta com o suficiente, mas, almeja ter muito mais;
HEBEL quer dizer: a ação do homem. Qohélet afirma que as ações do homem são sobrecarregadas de rivalidades e competições. O homem sempre busca por algo e nunca se sacia. Sempre é insatisfeito. O homem vive num pragmatismo. A ânsia pelos desejos pessoais. Assim, Qohélet afirma que a ação do homem é caça de vento, ou seja, é efêmero, não pode assegurar (é inútil caçar um vento);
HEBEL quer dizer: vaidade pelo prazer. Qohélet afirma que a alegria, o júbilo e qualquer experiência de gozo de vida não podem ter seu desfrute sob o sol. A mesma sensação de alegria pelo profano pode-se ter pelo religioso. Assim, alegria é um prazer e, assim, sendo é vaidade;
HEBEL quer dizer: vaidade por sabedoria. Qohélet afirma que não há motivo em ser sábio, tendo vantagem sobre o néscio. Qohélet afirma que a sorte está para todos. Não faz distinção. Assim, a ânsia por ser sábio também, é vaidade. Quem fala em demasia tem mais oportunidades de erro;
HEBEL quer dizer: vaidade pelo poder. Qohélet afirma que os homens se matam pelo poder. O homem tem sonhos de se tornar superior e de desejar o absoluto, mas enganam-se com tal poder, pois ele é temporal e passageiro. O homem quer o poder porque quer ser perfeito, mas engana-se porque o imperfeito também pode ser útil.

Um termo muito acentuado em Eclesiastes é: trabalho. O termo trabalho deriva de fruto ou rendimento. De acordo com a tradição de Israel o trabalho foi inserido na sociedade devido o pecado. Para Qohélet o trabalho pode ser edificante quando não se é realizado egoisticamente. O compartilhar de esforços para com o outro se torna uma condição positiva. Caso contrário é vaidade.

Qohélet afirma que existe um grau de retribuição para o homem (premio aos bons e castigo aos maus). Mas, isso deve ser buscado em vida, pois, para Qohélet não vida após a morte. A morte se estende a todos, não faz distinção. Se a morte está para todos a diferença então deve se buscada em vida. A recompensa, o homem pode receber em vida e não depois da morte. Para os mortos não há recompensa. A retribuição para os que têm vida é o Senhor. Quem teme o Senhor terá vida e no dia de sua morte, o homem, será bendito. Qohélet faz críticas duras ao sistema vigente em que ele vivia. Assim como muito profetas criticaram o opressão, qohélet também faz críticas ao sistema que escraviza e que promovem injustiças. De qualquer forma, Qohélet dá apreço a vida, pois em vida tem-se a possibilidade de melhorar enquanto que após a morte nada pode-se fazer. Assim, o fundamento da vida moral para Qohélet é a fé em Deus e não a discriminação e a injustiça. O fim está em Deus e não na morte, pois Deus é Deus dos vivos e não dos mortos.





Referência bibliográfica

VÍLCHEZ LÍNDEZ, J.; Sabedoria e Sábios em Israel, São Paulo, Loyola, 1999, pp. 167-203.