domingo, 28 de dezembro de 2008

Doze místicos cristãos - Parte II

São Bernardo

Monge cistercense teve uma vida monástica em que dedicou sua vida a meditação e a leitura da palavra de Deus. A experiência de Deus pra São Bernardo começa na liberdade que cada pessoa tem para aproximar-se de Deus. Livre, o homem alimenta sua fé em Deus na prática da caridade (amor) ao próximo. Outra consideração que ajuda na experiência divina é a leitura orante da palavra de Deus. Ouvir a palavra de Deus e obedecê-la promove a conversão de fiel em Cristo. Em que consiste a fé? A fé é o amor: amor a muitos e amar a si mesmo; amor é caridade para com os outros e amor não é interesse pessoal. O desejo que o homem tem por Deus é constante, não obstante, devido a limitação humana nunca alcançaremos a presença de Deus, senão somente a presença de espírito.


São Francisco de Assis

No século XIII uma pessoa que se tornou uma grande referencia para a mística foi São Francisco de Assis. São Francisco atribuiu para si a pessoa de Cristo, vivendo a pessoa de Cristo em sua vida. Cristo se tornou o maior fundamento para a vida de São Francisco. Configurou sua vida a Cristo. Cristo para São Francisco revela o Pai. É o mistério que se faz presença na humanidade. A revelação de Cristo transmite o amor do Pai a todas as coisas criadas. Tudo pertence a Deus e tudo canta o seu louvor. Não obstante, no homem reflete este amor de Deus que se projeta no próximo. Cristo promove no homem a experiência amorosa da fraternidade. É pela fraternidade que o homem transmite o amor solidário ao próximo. Consequentemente, São Francisco viu no pobre a presença de Cristo. Francisco, homem bem sucedido, abdica de sua vida habitual para manifestar o amor de Deus aqueles que necessitam. São Francisco se torna exemplo para a humanidade, pois exorta o louvor em todas as circunstancias. O cristão deve transmitir alegria e felicidade. A superação das dificuldades é o processo de renuncia de si mesmo e entrega pessoal a Deus.



São Boaventura

São Boaventura continuou a ação de São Francisco. Afirma que o homem tem um caminho a perseguir. Em outras religiões existem meios para conduzir-se a Deus, mas para Cristo tem-se um caminho a ser perseguido. Este caminho, diz São Boaventura é o itinerário de cada cristão para encontrar-se com Deus. Todas as criaturas devem proclamar louvores a Deus criador. Tudo foi criado por Deus. Desta forma, o homem pode perceber a ação de Deus na realidade. Isso se deve ao fato de que o homem possui sensibilidade, espírito e inteligência que permite perceber a ação de Deus no mundo e, também porque a mente humana está orientada para aproximar-se de Deus. Assim sendo, aproximar-se de Deus já é uma ascensão, mas requer uma purificação. O homem deve se conscientizar às obras de Deus e buscar a purificação da alma. Pois, só assim pode-se experimentar a graça divina que se encontra no interior de cada um.


VELASCO, Juan Martin. Doze Místicos Cristãos. Petrópolis: Vozes, 2003, pp. 47-86.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Doze misticos cristãos - Parte I

São Paulo

Paulo é considerado um místico, apesar de muitos estudiosos observarem a teologia paulina apenas num contexto cientifico-teológico. O misticismo paulino não é acentuado devido a grande procura pela teologia paulina ofuscada atrás de seus textos. Paulo é considerado um místico, pois rende-se a pessoa de Cristo. Da conversão de Paulo tem-se a grande resposta pela fé em Jesus Cristo. A fé é a adesão, a aceitação deste Deus que se faz presença na humanidade. O amor de Deus é refletido no interior de cada pessoa. Assim, cada pessoa tem o amor de Deus em seu interior e o transmite na comunidade. O amor une, vivifica, promove a comunhão. Por fim, a esperança é a condição pela qual o homem transcende este amor a Deus, busca-se a Deus. Jesus retornará. E isso ocorrerá porque em Deus tem o amor. A esperança é a ocasião de vida em abundancia em Cristo. É a total comunhão dos homens para com Deus no momento da parusia.


São Gregório de Nissa

São Gregório de Nissa faz uma interpretação de sua mística pela obra Cântico dos Cânticos. Neste livro tem-se a ressalva aos valores da humanidade: o homem com seus desejos e amores recíprocos. A reciprocidade de cada um reflete numa união entre duas pessoas. Gregório de Nissa usa esta união para apresentar uma união da humanidade para com Deus. O homem em si sempre está em busca de Deus, contemplar a Deus. Deus é considerado para Gregório de Nissa como uma beleza, aquilo que é belo. Desta forma tem uma beleza ferida, pois, não é fácil contemplar o que se procura. Outro aspecto da mística de Gregório de Nissa é a figura de Moisés. Moisés foi aquele que despiu seus pés para estar na presença do sagrado na sarça ardente. A imagem da purificação é muito acentuada para São Gregório. Assim, se tem a imagem do dilúvio e do mar vermelho. Não obstante, para que se possa conhecer a Deus o homem teria de passar primeiramente pelas trevas, pois, Moises via Deus nas trevas. Com efeito, o homem tenderia em muito de buscar a Deus, ter o desejo de aproximar-se de Deus. O desejo do bem aproxima cada vez mais do bem. Seguir a Deus é ter uma vida virtuosa. Moises foi considerado servo de Deus por seguir a Deus. A noite é mais visível que o invisível.

Santo Agostinho

Para Santo Agostinho o homem tem o conhecimento por si mesmo da alma. A alma é o máximo daquilo que o homem poderia conhecer, é o limite humano. Eis, o questionamento de Santo Agostinho: Quem sou eu meu Deus? No interior do ser humano existe um mistério, uma inquietação. Isso procede porque Deus já se encontra no interior de cada pessoa e por isso o homem tende a querer estar na presença de Deus.
O mistério dentro de si leva o homem à ascensão por Deus. O mistério de Deus deixa a alma inquieta. A inquietação conduz o homem ao desejo de ser feliz: a busca pela felicidade. A limitação humana impede de ter á plenitude da felicidade. Deus é a fonte da felicidade. É por isso que o homem tende para a felicidade. Uma das circunstancias pelas quais, o homem tem dificuldade de se aproximar de Deus, é o pecado. O pecado não é da natureza humana, mas é uma condição do querer do homem em querer estar ou não com Deus. Assim, a liberdade é o consentimento do homem em querer abdicar o pecado para estar com Deus.




Referência Bibliográfica

VELASCO, Juan Martin. Doze Místicos Cristãos. Petrópolis: Vozes, 2003, pp. 11-46.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Os meios de transmissão de mensagem.

Os profetas escrevem para assegurar uma obra que valor importante. Os profetas tem a intenção de anunciar o futuro numa realidade em que enfrentam os poderosos criticando as injustiças da época. Segundo Zimmerli[1], os textos dos profetas têm a intenção de transmitir uma mensagem, testemunho de um povo e ataque a realidade existente.
O principal problema enfrentado quando se tem um dos livros proféticos em mãos é a sua formação. Os textos proféticos não foram escritos por uma pessoa apenas, mas, sim, por várias pessoas. A probabilidade é que foram escritos diversos textos num período e estes foram agrupados até formar um texto único. Alguns textos foram escritos primeiro e depois pronunciados. Evidentemente que há livros que foram elaborados após uma palavra falada, como por exemplo, o livro de Zacarias. Os profetas também tiveram seus discípulos e seguidores. Estes discípulos e seguidores contribuíram para a redação biográfica do mestre, reelaboração e criação de oráculos. Estes de seguidores tiveram o compromisso de acrescentar textos antigos e agrupá-los de acordo com o contexto de cada realidade. Não tiveram a intenção de separar os textos por ordem cronológica, mas por temáticas: oráculos de condenação ao próprio povo, às nações estrangeiras, a salvação do povo e a narrativa. Assim, os textos proféticos passaram por diversos retoques e alterações dificultando a interpretação de cada realidade existente.



Referencia Bibliográfica


SICRE, J.L., Profetismo e Israel, Petrópolis, vozes, 1996, pp. 173-181



[1] Zimmerli apud, SICRE, J.L., Profetismo e Israel, Petrópolis, vozes, 1996, pp.174

domingo, 7 de dezembro de 2008

Eclesiastes – Qohélet

Segundo a tradição dos judeus, o livro do Eclesiastes é atribuído a pessoa de Salomão. Passaram-se três séculos para que se pudesse reconhecer que o autor do livro do eclesiastes não fora Salomão, mas um sábio de sobrenome Qohélet.

Qohélet teria sido um judeu de Jerusalém de classe alta de esmerada educação e formação.

Qohélet fora um bom observador. “dediquei-me a investigar...Examinei todas as ações...Observei a tarefa que Deus impôs aos homens” (1,13-14; 3,10). Atribui-se a Qohélet um senso critico. Não se satisfaz o que lhe ensinaram desde pequeno na sinagoga, na escola, no templo. É constatado que Qohélet faz críticas à tradição da qual ele pertence. A data da obra (Eclesiastes) é possivelmente nos meados do século III próximo ao ano 200. O local onde se atribui a obra teria sido a Palestina com a capital Jerusalém.

O livro do Eclesiastes nasce de acordo com a realidade de seu tempo. Consideram Qohélet como um verdadeiro sábio que concilia as realidades existentes. Não obstante, o autor de Eclesiastes teria sido influenciado pela cultura grega. Pois Jerusalém naquela época já era influenciada pela cultura grega. Outras culturas também influenciaram a região de Israel e também inspirou o autor de Eclesiastes em sua literatura: mesopotamica e egípcia. Evidentemente que Qohélet em muito usufruiu da cultura tradicional de seu povo, pois ele conhecia muito bem os Livros Sagrados como o Pentateuco e a Torah.

A intenção de Qohélet é conscientizar o povo, apresentar ensinamentos críticos da realidade. Ele apresenta o termo HEBEL que significa: vaidade. HEBEL é um conceito importante, mas que não tem apenas um significado. HEBEL é a sentença mais importante do livro senão a mais famosa pela expressão VAIDADE DAS VAIDADES. Fora do contexto do Eclesiastes o termo HEBEL tem outros significados com: vento, sopro, aura, fumaça, brisa, vapor, transpiração, etc. “Porque o vento (RUAH) arrastará a todos, e um HEBEL, os arrebatará”. HEBEL neste contexto quer dizer sopro. O sentido original de HEBEL, por sua vez é RUAH (vento). Qohélet faz desse termo fonte de interpretação para muitas outras ocasiões:

HEBEL quer dizer: vaidade por riquezas. Qohélet afirma os bens que o homem consome e acumula no decorrer da vida. É o desejo incontrolável pelo dinheiro. O desejo de ter e possuir são efêmeros, por isso é vaidade;
HEBEL quer dizer: vaidade pela avareza. Neste contexto, Qohélet se refere ao rico que acumula e continua a acumular bens. Tal personagem não se contenta com o suficiente, mas, almeja ter muito mais;
HEBEL quer dizer: a ação do homem. Qohélet afirma que as ações do homem são sobrecarregadas de rivalidades e competições. O homem sempre busca por algo e nunca se sacia. Sempre é insatisfeito. O homem vive num pragmatismo. A ânsia pelos desejos pessoais. Assim, Qohélet afirma que a ação do homem é caça de vento, ou seja, é efêmero, não pode assegurar (é inútil caçar um vento);
HEBEL quer dizer: vaidade pelo prazer. Qohélet afirma que a alegria, o júbilo e qualquer experiência de gozo de vida não podem ter seu desfrute sob o sol. A mesma sensação de alegria pelo profano pode-se ter pelo religioso. Assim, alegria é um prazer e, assim, sendo é vaidade;
HEBEL quer dizer: vaidade por sabedoria. Qohélet afirma que não há motivo em ser sábio, tendo vantagem sobre o néscio. Qohélet afirma que a sorte está para todos. Não faz distinção. Assim, a ânsia por ser sábio também, é vaidade. Quem fala em demasia tem mais oportunidades de erro;
HEBEL quer dizer: vaidade pelo poder. Qohélet afirma que os homens se matam pelo poder. O homem tem sonhos de se tornar superior e de desejar o absoluto, mas enganam-se com tal poder, pois ele é temporal e passageiro. O homem quer o poder porque quer ser perfeito, mas engana-se porque o imperfeito também pode ser útil.

Um termo muito acentuado em Eclesiastes é: trabalho. O termo trabalho deriva de fruto ou rendimento. De acordo com a tradição de Israel o trabalho foi inserido na sociedade devido o pecado. Para Qohélet o trabalho pode ser edificante quando não se é realizado egoisticamente. O compartilhar de esforços para com o outro se torna uma condição positiva. Caso contrário é vaidade.

Qohélet afirma que existe um grau de retribuição para o homem (premio aos bons e castigo aos maus). Mas, isso deve ser buscado em vida, pois, para Qohélet não vida após a morte. A morte se estende a todos, não faz distinção. Se a morte está para todos a diferença então deve se buscada em vida. A recompensa, o homem pode receber em vida e não depois da morte. Para os mortos não há recompensa. A retribuição para os que têm vida é o Senhor. Quem teme o Senhor terá vida e no dia de sua morte, o homem, será bendito. Qohélet faz críticas duras ao sistema vigente em que ele vivia. Assim como muito profetas criticaram o opressão, qohélet também faz críticas ao sistema que escraviza e que promovem injustiças. De qualquer forma, Qohélet dá apreço a vida, pois em vida tem-se a possibilidade de melhorar enquanto que após a morte nada pode-se fazer. Assim, o fundamento da vida moral para Qohélet é a fé em Deus e não a discriminação e a injustiça. O fim está em Deus e não na morte, pois Deus é Deus dos vivos e não dos mortos.





Referência bibliográfica

VÍLCHEZ LÍNDEZ, J.; Sabedoria e Sábios em Israel, São Paulo, Loyola, 1999, pp. 167-203.

domingo, 30 de novembro de 2008

Os sacramentos da iniciação

Os sacramentos promovem um encontro com Jesus. Jesus é a pessoa que revelação do Pai. Isso é o que se chama de Revelação, a Revelação da graça divina na humanidade. Desta forma, temos este encontro com Jesus que pode ser considerado como uma caminha para Deus, um dirigir-se a Deus. Este caminhar é a celebração da iniciação cristã. A iniciação cristã é a vontade do ser humana por buscar a Deus. A Igreja determinou esse processo dentro dos sacramentos da iniciação cristã que são determinados em: batismo, confirmação e eucaristia. Desta forma a “carne”, o ser humano deve ser lavado, purificado, e iluminado para que possam corresponder as vontades de Deus no mundo. A graça de Deus agirá conforme a vontade do homem em querer estar junto de Deus inserido na Igreja pelos sacramentos da iniciação cristã[1].
O batismo, a confirmação e a eucaristia iniciam o cristão na nova vida em Cristo e na Igreja. O batismo é a vida nova, a confirmação é a missão e a eucaristia a atualização em Deus. De qualquer forma os sacramentos da iniciação cristã têm o objetivo de promover no cristão a ação de testemunhar a Cristo que se revela e que se revelando anuncia o Reino de Deus a todos. Eis o motivo pelo qual se tem a iniciação do mistério, pois Cristo é o mistério que se revela feito homem e Deus na humanidade (encarnação) para a remissão dos pecados de muitos. Assim, a ação humana corresponde com o testemunho à Cristo que morreu e ressuscitou para a salvação da humanidade. O batismo insere a pessoa no mistério da Trindade, tendo a relação com o Pai pelo Filho e do Espírito Santo pela ação do Filho. A vida nova surge no cristão. A confirmação é a aceitação do cristão nesta vida nova de forma a se lançar em missão anunciando Cristo, Senhor, pela unção do Espírito. E, por último a eucaristia como a atualização da vida em Cristo. A eucaristia é a fonte espiritual de cada cristão, pois, Cristo se encontra nela, se faz presença na eucaristia. É por isso que o sacramento da eucaristia é o sacramento primordial, o centro de todo o agir humano em Deus. Não obstante, os sacramentos da iniciação cristã se complementam. A celebração do batismo festeja a páscoa, a vida nova em Cristo, a purificação do homem perante Deus; a eucaristia é a fonte de toda espiritualidade cristão, porém requer o batismo, pois inicia o cristão na vivencia de uma vida consagrada e a confirmação que tende projetar o cristão na missão, capacitando-o no anuncio do Evangelho e consequentemente o Reino de Deus. Portanto, os sacramentos da iniciação cristãos apresentam uma vida que se entrega a Deus. Esta oblação a Deus é a renovação da humanidade pela fé, amor e esperança no Cristo que se revela e revela o Pai pelo Espírito.



Referência Bibliográfica

FORTE, B., Introdução aos Sacramentos. São Paulo: Paulus, 1996, pp. 36-40.


[1] “A carne é lavada, para que a alma seja purificada; a carne é ungida, para que a alma seja fortalecida; a carne é submetida à imposição da mão, para que alma seja iluminada pelo Espírito; a carne é alimentada com o corpo e o sangue de Cristo, para que a alma seja saciada por Deus” (cf. TERTULIANO, De Ressurrectione, 8, in FORTE, B., Introdução aos Sacramentos. São Paulo: Paulus, 1996, 36-37).

domingo, 23 de novembro de 2008

Os profetas e o culto.

O culto em Israel se estabelece em três formas básicas: espaço sagrado, tempo sagrado e as ações sagradas. O espaço torna-se sagrado devido à manifestação da divindade, uma pessoa de expoente religiosa funda tal lugar e desenvolve-se para o culto profano. Existem lugares que são considerados como manifestações divinas: Betel Sinai, Jerusalém. Mas há outros lugares escolhidos pelo homem: Guidal, Dã, etc. O tempo é caracterizado pelas festas: ázimos (colheita nova), pentecostes (passagem, libertação do Egito) e tabernaculos (festa de Javé – relacionada ao deserto) e o sábado que é considerado o dia do descanso – observância, fidelidade a Deus. As ações (ritos) eram caracterizadas pelo sacrifício. Tem-se o sacrifício sobre o altar como oferta a Deus. Temos ainda os holocaustos (queima), sacrifícios de comunhão (comem-se como coisa santa), expiatórios (remissão), oferta de vegetais complementando o sacrifício animal. Todos estes gestos eram acompanhados de orações, ritos de purificação e de consagração para aproximar-se de Deus.
Os ministros tinham a função de transmitir e ensinar a Tora, abater as vítimas como sacrifício a Deus e mediador entre os homens e Deus.
Estudiosos afirmam que os profetas tinham uma ligação com o culto do povo de Israel com seus sacrifícios e holocaustos. Torna-se radical afirmar uma completa rejeição do culto por parte dos profetas. Afirmam certa divergência exegética. Antes do exílio teriam os profetas uma rejeição ao culto, porém após o exílio tem-se uma aproximação ao culto de Israel, sendo assim requer uma distinção melhor aos textos.
O culto passa a ter uma outra interpretação. Tem-se quebrado os valores de culto para a satisfação própria. O homem passa a procurar seu jeito próprio de aproximar-se de Deus, pondo em descrédito a realização do culto. Um exemplo disso é Saul que após uma conquista não promove o extermínio de animais, mas seleciona os melhores gados para o culto ao Senhor como reflexo de um culto exagerado
[1]. Por outro lado, Amós e Oséias combatem sacrifícios acompanhados de sofrimentos e opressão dos menos favorecidos[2]. Oséias também afirma que os sacerdotes fazem do culto um negócio. Transmite uma idéia falsa para que se possa beneficiar de animais e alimentos para consumo próprio[3]. Jeremias exorta ao culto do qual deveria ser voltado para a justiça de Deus, a justiça divina, apoiando os órfãos e oprimidos[4]. Para Jeremias a Casa de Deus se tornara um covil de bandidos. Desta forma o profeta afirma que a Casa de Deus já não se encontrava mais em nenhum lugar[5].
Para o antigo povo de Israel o culto era inconcebível com seus ritos e ações. Os profetas desencadearam duros conflitos para combater essas ações. O texto que melhor expressa essa ação contrária esta no Salmo 50 no que diz: “Por acaso comerei sangue de touros ou beberei sangue de bodes?” Os profetas apresentam os sacrifícios como realizações puramente humanas e não uma ação de Deus. Os cultos não agradam a Deus e isso reflete no texto de Oséias no que diz: “quero misericórdia, não sacrifícios, conhecimento de Deus e não holocaustos”.
A profecia dos profetas serve como anuncio da Palavra de Deus e denuncia das injustiças da sociedade. Deus age nos profetas pondo-os em missão de anunciar a Palavra de Deus. Os profetas observam na natureza a ação de Deus. As intempéries são ações de Deus não como castigo, mas, uma forma de conversão da sociedade. A visão do profeta é puramente teológica. Assim, uma guerra é resultado da ação de Deus para conter o pecado da sociedade. É a providencia de Deus agindo no povo. O futuro é a esperança que o profeta almeja com a conversão, renovação, aliança e intimidade com Deus.
Deus é soberano porque está a frente de todos os povos e de todos os exércitos, assim ele se faz Senhor da história, mas também age na orportunidade, ou seja, Deus age no momento oportuno na vida do homem. Isso faz pensar na obra divina com algo estranho e surpreendente, pois o plano de Deus não é o mesmo do que de qualquer homem. Torna-se muitas vezes escândalo, pois Deus também age no sofrimento como uma forma de purificação e conversão
[6].
Portanto, a palavra de Deus age na história humana. O fato de rever o passado dá indícios de uma conversão. A análise dos atos e fatos pode levar a uma mudança de vida em Deus. Não obstante, para que a palavra de Deus possa ter sua força e atuação na vida do homem, este deve ter fé. A fé é o alimento para a salvação do homem. A fé faz com que o homem creia, se fortaleça, supere e confie em Deus agindo em toda a humanidade.











[1] “O homem tem a tentação de procurar o seu próprio caminho para contentar a Deus.” (cf. SICRE, J.L., Profetismo em Israel, Petrópolis, Vozes, 1996, pp. 392).
[2] “As peregrinações aos grandes santuários de Betel, Guildal e Bersabéia exercem grande atração sobre o povo. Não se deixa de pagar dízimos, são abundantes os sacrifícios de animais e as oferendas voluntárias. Mas todo esse culto está acompanhado de tremendas injustiças, de fraudes no comércio, compra e venda de escravos e opressão de fracos” (cf. SICRE, J.L., Profetismo em Israel, Petrópolis, Vozes, 1996, pp. 392-393).
[3] Cf. SICRE, J.L., Profetismo em Israel, Petrópolis, Vozes, 1996, pp. 395.
[4] Cf. SICRE, J.L., Profetismo em Israel, Petrópolis, Vozes, 1996, pp. 400.
[5] “Em resumo, a imensa maioria dos textos proféticos mostra-se crítica frente ao espaço sagrado, contagiando por práticas idolátricas cananéias os lugares altos e que fomentam uma falsa religiosidade ou uma falsa idéia de Deus (santuários e templos)” (cf. SICRE, J.L., Profetismo em Israel, Petrópolis, Vozes, 1996, pp. 402).
[6] cf. SICRE, J.L., Profetismo em Israel, Petrópolis, Vozes, 1996, pp. 416-419).





Referência Bibliográfica


SICRE, J.L., Profetismo em Israel, Petrópolis, Vozes, 1996

domingo, 16 de novembro de 2008

Celebrar os sacramentos

A celebração dos sacramentos tem um único objetivo: conduzir, elevar o homem a Deus. Celebrar o sacramento é levar o cristão a verdade. É estruturar-se com a comunhão como povo peregrino a Deus. O povo peregrino caminha para a verdade, para a graça de Deus que se encontra nos sacramento (gestos salutares da obra redentora de Cristo). Os gestos salutares de Cristo se encontram na Igreja através da liturgia. A celebração litúrgica dos sacramentos convida o fiel a estar mais próximo de Deus. Pela liturgia o fiel se debruça no mais intimo da graça de Deus. Desta forma a celebração litúrgica age como um comunicar com Deus que permite o homem a encontrar seu sentido último perante a graça de Deus. O Espírito permite esta relação de diálogo com Deus. O espírito humano se eleva na celebração litúrgica quando percebe a ação de Deus interagindo na existência humana. A Trindade age no ser humano pela pessoa de Cristo. Pela liturgia tem se o comunicar do espírito com a Trindade. O cristão já não é mais estranho perante Deus, mas intimo de Deus pelo amor trinitário. Tem-se o contato com o Pai pelo Filho e do Filho a santidade pelo Espírito. Isso explica o motivo do qual as orações litúrgicas terminam com a invocação à Trindade. Professar a fé é vivenciar a graça do sacramento na vida. Pela celebração dos sacramentos tem - se um comunicar, uma comunhão e uma intimidade para com Deus pelo Espírito. O próprio Jesus conduziu todo o povo de Deus a Trindade pela oração do Pai nosso. Ele, Jesus, é a aliança que aproxima o divino da criatura. Assim, os sacramentos promovem a transformação de vida pela palavra de Deus, o Deus vivo que age na humanidade. Os sacramentos da Igreja pela ação do Espírito atualizam a obra redentora de Cristo. É pelos sacramentos que encontramos o amor de Cristo pela humanidade.
Referencia Bibliográfica

FORTE, B., Introdução aos sacramentos. São Paulo: Paulus, 1996, pp. 31-35.

domingo, 9 de novembro de 2008

Tradição da Igreja

A Tradição é a plenitude da Revelação. Inclui-se nela a Escritura, sacramentos, instituições; é tudo aquilo que a Igrejas vive e crê até hoje. Os primeiros cristãos tiveram a experiência da revelação e perpetua a revelação como experiência apostólica de Cristo. A Tradição é a transmissão de uma realidade e de uma experiência de geração a geração. A Tradição se fundamenta pela historicidade do homem e a sua sociabilização (linguagem, cultura, língua, valores). A escrita é a parte da Tradição, assim, a escritura e Tradição fazem parte de um todo. Evidentemente que para a Tradição requer interpretação para compreendê-la. Interpreta-se a Tradição num sentido fixista, ou seja, a conservação da fé e linguagem deve ter a mesma formulação. Deve ser imutável. Conserva-se o depósito da fé sem novidade ou mudança. Essa interpretação tem dificuldade antropológica, pois, a experiência modifica-se como tempo, assim, a revelação de Deus deve ser interpretada no nível da experiência. A hermenêutica se torna uma nova interprete da realidade. Assim, desmorona a posição tradicional. Cada modelo já não tem mais a intenção de ser absoluto. Tem-se o trabalho de observar a modernidade. Busca-se uma explicação da realidade. As grandes viagens, estudos históricos e a filosofia existencial deram ao homem autonomia no mundo. O homem se descobre em vários níveis e dimensões na sociedade, como sexual, cultural, político que ampliam o conhecimento humano. Assim, surge na teoria do conhecimento mais um quadro que tende ao positivismo que contrapõe ao definitivo e irreversível (fixista). O historicismo é outra forma de interpretação da realidade em que desconhece a hermenêutica, dá máximo rigor ao passado e esta a espera de novas descobertas. Cada verdade fica sempre aberta à espera de novas descobertas. Nisso temos seu caráter relativista. Nesta perspectiva Jesus seria incompreensível na história, pois seria impossível apontá-lo como transcendente. A posição dialética, por sua vez, aponta que Deus se revela no contexto de cada indivíduo. Cada comunidade irá interpretar a ação de Deus no seio da sociedade. A própria escritura já é uma interpretação de uma comunidade. “A Igreja de hoje, que interpreta, insere-se nesse imenso processo de transmissão que vem fazendo o passado sempre presente, e o presente sempre ligado ao passado”. Portanto, a história não se faz absoluta, mas fonte de interpretação do homem. A Tradição é a experiência de vida dos cristãos e a Escritura é a experiência transmitida dos cristãos, assim a Tradição é a conservação dos valores, conhecimentos e da realidade de um povo. O critério para interpretar a Tradição é professar a fé na Trindade. “A Trindade ensina a riqueza infinita e plural da unidade”. Crer que a revelação foi manifestada na imperfeição do homem como desígnio salvífico de Jesus para com a humanidade. Jesus é a referência fundamental. “O acesso a Jesus se faz através do testemunho da pregação da Igreja primitiva, sobretudo dos apóstolos”. A caridade é o ela que une os cristãos. É só por ela que se podem compreender as falhas e restabelecer a unidade da Igreja. Reconhecer a Tradição testemunho da Igreja primitiva, dando relevância à pessoa do outro como no período apostólico, testemunhando a verdade revelada, Cristo. Consequentemente o “cristão conserva, e transmite a revelação sob diversas formas: confissão de fé, o testemunho, ensino e a pesquisa científica, a liturgia, a vida cristãmente vivida, as expressões artísticas, a religiosidade popular, a santidade e o martírio”. Isso é o que se chama de sensus fidelium é a vivencia e a prática dos fieis cristãos na Igreja. E, por ultimo tem-se a solidariedade para com os excluídos da sociedade, os pobres e os desamparados, a imitação de Cristo. Portanto, a interpretação da Tradição está para um processo cultural pelo fato de que o homem é capaz de responder as verdades reveladas por vários âmbitos e dimensões e, teologal porque o Espírito Santo é a força que conduz toda a humanidade a unidade mesmo havendo a diversidade de dons e carismas na mesma.






Referência Bibliográfica

LIBANIO, J.B., Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992, pp. 387-428.

domingo, 2 de novembro de 2008

Revelação nos concílios.

Concilio de Latrão (XIII) - o objetivo do concilio é de renovar a fé na Santíssima Trindade contra seitas espiritualistas. A diretriz fundamental do concilio era de definir a Trindade sujeito da obra salvífica na humanidade. A revelação é uma comunicação de Deus e não de seitas espiritualistas.

Concilio de Trento (XVI) – Contrapôs se a reforma luterana opondo-se aos ensinamentos protestantes. Os protestantes acentuavam o momento individual da fé – livre exame da escritura. Por outro lado o concilio de Trento apresenta o conteúdo da revelação – Sagrada Escritura e Jesus Cristo, Filho de Deus. A revelação é apresentada através do Evangelho. O Evangelho é considerado como a “verdade salutar dos costumes de disciplina”.

Concilio Vaticano I (XIX) – Defrontou-se com várias formas de racionalismo. O movimento das ilustração desempenhava o momento em que a razão tinha a autonomia na vida do homem. Assim, surgia o ateísmo racional que em nome da razão rejeitava a Deus. O concilio afirmava a revelação pelas verdades naturais, verdades naturais reveladas por Deus e as verdades sobrenaturais conhecidas somente pela revelação divina. A ênfase esta no fato de que é Deus que se revela gratuitamente ao homem. Desta forma o homem tem a inteligência suficiente para chegar à verdade (Deus) por suas próprias forças naturais. O objetivo do Vaticano I é salvaguardar a revelação contra o racionalismo e o pessimismo da razão humana.

Concilio Vaticano II (XX) – Têm-se apelos ecumênicos e não impor verdades contras adversários. Tem-se a resposta para o mundo com a ação pastoral e dialogo com outras denominações: ecumenismo. A efervescência do estudo de teologia, exegese dificultaram a realização dos documentos no concilio, tal como a Dei Verbum. A revelação como doutrina cede espaço para a revelação de Deus na história. A revelação na Dei Verbum é realizada pela pessoa de Cristo. Desta forma o homem se torna participante da natureza divina junto ao Pai. O comunicar de Deus na humanidade se deve a encarnação e a história. Assim, o plano de Deus se transmite a todas as gerações, contribuindo para a sucessão apostólica (Tradição).






Referência Bibliográfica

LIBANIO, J.B., Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992, pp. 381-386.

domingo, 26 de outubro de 2008

O valor salvífico da morte de Jesus em Paulo - Kasemann

Kasemann afirma que o valor salvífico de Jesus para Paulo perpassa pela morte de Cruz. A morte de Cruz não deve ser apenas proclamada, mas, viver Jesus crucificado. A morte de Jesus tem o significado de doação. A doação é senão o amor que se estabelece para com o outro[1]. Esse amor se reflete no outro pela caridade.
O homem não se salva por si mesmo, mas, Jesus é que conduz a salvação de toda a humanidade pela cruz. Somente a cruz reflete quem é o verdadeiro Deus e o verdadeiro homem Jesus. O processo da cruz ressalta um fator importante da pessoa de Jesus: a obediência. A obediência de Jesus é sinal de criaturalidade. Jesus se fez obediente até o fim, humilhando-se para conduzir toda a humanidade a justificação. Jesus faz que com a morte de cruz o homem se torne justo perante a Deus. A justificação é o homem livre da Lei se tornando nova criatura. O homem justificado é reconciliado com Deus pela graça divina. Evidentemente que da obediência de Jesus tem – se a justificação do homem, mas também Cristo salvaguarda toda a humanidade ao dia derradeiro tendo esta rejeitada toda a imagem de Adão (desobediente) a Deus
[2].
A teologia primitiva (outrora a Reforma) era da Ressurreição. Esta dizia que Paulo era adepto a teologia da ressurreição
[3]. A cruz seria, então, a sombra da ressurreição. Cabe a exegese responder tal questão. Em Gl 3,1 afirma que o crucificado foi pintado diante da comunidade, em 1Cor 2,8 as potencias demoníacas responsabilizadas pela morte de Cristo e em Fl 2,6 tem a circunstancia da descida de Cristo em sua humilhação e sua subida gloriosa que perpassou pela cruz. Não obstante, o acesso à cruz tem sua ressalva pela pregação. O evento salvífico não pode estar separado da pregação. A fé vem da pregação sendo a pregação um ato salvífico. A teologia da cruz e da palavra estão unidas[4] e contrapõem a teologia da Ressurreição pois consideravam esta como aquela que justificava todas as ações de Jesus na história. Para Paulo o Ressuscitado, assim o é, porque passou pela cruz. Fala-se do ressuscitado porque teve o evento da cruz. Eis a questão: A história pode desdobrar-se para a divindade? Jesus, Deus feito homem, que viveu na história da humanidade sofreu e morreu na cruz sendo obediente a Deus conduz a humanidade ao eschaton. Isso se deve pelo fato de que Jesus é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus[5]. Assim sendo a Cruz de Cristo justifica toda a ação do homem e faz parte da concepção teológica de Paulo. Pois, para Paulo Cristo se fez homem na história sofreu e morreu sendo obediente a Deus. Tais fatos ressaltam a humanidade de Jesus e a cruz é um evento que reflete todo o limite do ser humano com sua morte. A morte de Jesus é o ápice de que Ele foi inteiramente humano estando no mesmo nível da humanidade. Porém, não obstante, conduzindo todos à salvação e a estarem à direita do Pai no evento da Parusia. Desta forma afirma-se que a teologia da ressurreição nada mais é do que um capítulo da teologia da cruz[6].
Referencia Bibliográfica
Kasemann E., Perspectivas Paulinas. São Paulo: Teológica/Paulus, 2003

[1] Kasemann E., Perspectivas Paulinas. São Paulo: Teológica/Paulus, 2003, pp.70.
[2] Idem, pp73-78.
[3] Idem, pp 81.
[4] Idem, pp 85-86.
[5] Idem, pp. 89-90.
[6] Idem, pp 100.

sábado, 18 de outubro de 2008

Cristo sacramento primordial.

Cristo se manifesta em forma humana. A própria manifestação de Jesus é o resultado da promessa de Deus que se realiza na humanidade para que a mesma possa ser salva. Desta forma, os atos salutares de Jesus são sacramentais . Sacramento tem por sua vez o significado de salvação. É o dom da salvação transmitida pelos atos de Jesus na história da humanidade.
Jesus feito homem realiza a graça de Deus conseqüentemente a redenção divina é por isso que ele é o sacramento primordial . Desta forma o encontro com a pessoa de Jesus é o encontro pessoal com o próprio Deus. Assim, justifica os atos salutares de Jesus sendo, portanto, sinal e causa de graça.
A revelação de Jesus tem uma intenção: com a encarnação do Filho tem-se a redenção do homem, a libertação do pecado e a comunhão com Deus. O amor de Jesus aos homens é a manifestação do amor de Deus para todos os homens. Isso é o que se pode chamar de movimento de descendente de Deus . A condição em que a humanidade alcança a graça de Deus pela ação de Jesus é uma circunstancia que procede de baixo para cima. É um movimento ascendente.
Jesus é fonte de diálogo com o Pai. Toda a humanidade pode se sentir liberta e agraciada a Deus pela pessoa de Jesus. Ele foi obediente até o fim se fazendo homem e morrendo na cruz para a remissão dos pecados . A ressurreição e a glorificação de Jesus é o resultado de que a plenitude do Reino de Deus já se faz presença, mas que a humanidade ainda espera pela vinda do Senhor para o resgate final de todos que se fizeram justos.
Cristo comunica a todos a graça de Deus, pois ele e´ o sacramento por ser o Senhor ressuscitado, o KYRIOS como Espírito Santo .
A redenção se torna a iniciativa do Pai, pelo Filho, no Espírito Santo. Assim, temos a Trindade agindo na humanidade em que requer ao homem uma resposta, uma iniciativa para que Deus possa se fazer presente na vida daquele. O contexto da redenção é a Trindade agindo na humanidade, a obediência de Cristo, a humilhação do mesmo e a ação do Espírito Santo movendo a todos ao sentido da missão .
A narrativa da paixão revela o sentido do sacrifício expiatório de Jesus. Evidentemente que tal sacrifício tem como resultado a aliança com Deus. A morte de Cristo santifica, reconcilia e liberta a humanidade. O evento salvífico de Jesus não esta só para um momento (morte), mas para toda a encarnação de Jesus. O pecado tira a vida de Jesus, mas Deus restitui-lhe a vida; é a vitória de Deus. Deus o ressuscita é lhe dá o nome de KYRIOS, Senhor. O momento da ressurreição é a plenitude de Cristo que sobe ao céu pela ascensão em que a humanidade espera fielmente pela volta do Senhor na Parusia. Assim, se constitui o mistério da Redenção. Estabelece-se o conteúdo dogmático da vida de Cristo: Páscoa, Ascensão e Pentecostes. Páscoa é a fidelidade do Encarnado, a Ascensão é o Senhor como Rei do Universo e o prelúdio do Espírito Santo e Pentecostes é o complemento daquilo que Jesus já realizou e que se concretiza pela pessoa do Espírito Santo .




cf. SCHILLEBEECKX, E.; Cristo, Sacramento do encontro com Deus. Petrópolis: Vozes, 1968, pp. 21.
Idem, pp. 22
Idem, pp. 23
Idem, pp. 25
Idem, pp. 26
Idem, pp. 27
Idem, pp. 28-29






Referencia Bibliográfica
SCHILLEBEECKX, E.; Cristo, Sacramento do encontro com Deus. Petrópolis: Vozes, 1968

domingo, 12 de outubro de 2008

O mistério da Igreja – Sacramento de Cristo celeste.

A morte de Cristo é o nascimento da Igreja. Mas, é Cristo que promove a salvação. Cristo é a dimensão escatológica da qual a Igreja sempre está a espera pela vinda do Senhor. O corpo de Cristo é a Igreja e isso se procede ao mesmo tempo com a “cabeça e Membros” de Cristo. A Igreja se torna a comunidade visível da graça de Deus na obra redentora do Salvador. Cristo ao ser glorificado se torna manifesta a Igreja celeste da qual a todos participam. Por outro lado, com a ascensão de Cristo, o Espírito Santo manifesta a Igreja terrestre entre os homens. Desta forma, a Igreja se torna objeto de salvação e santificação para os homens. Pela Igreja tem-se a manifestação do amor de Deus a todos (um movimento de cima para baixo) e também um serviço a Deus – culto (movimento de baixo para cima). Com efeito, tem-se, para este ultimo movimento, a circunstancia de ministérios que se desenvolvem e de carismas que promovem a comunhão. Assim, percebem-se os instrumentos que contribuem para a promoção do Reino de Deus a todo homem de boa vontade. O sacramento é, de princípio o próprio ato de Cristo inserido na Igreja. O sacramento é ato visível de Cristo na Igreja com salvação. A recepção na fé dos sacramentos é o resultado de um encontro com Deus. Nos atos históricos de Jesus temos um mistério envolvido (todo o mistério da encarnação, paixão, morte de Cristo na Cruz , ressurreição e redenção). Este mistério de presença de Deus na comunidade é o sacramento que sempre se atualiza na história. Tal fato se procede porque Jesus se fez homem; é o homem/Deus que rompe com o tempo e a história porque seus atos são eternos. A vida de Cristo é eternizada através da glorificação. Nos sacramentos tem-se o ato sacrifical, espiritual e corporal de Cristo que agem de modo salutar para a salvação. Na realização dos sacramentos é Cristo que batiza, absolve e se torna presença real na eucaristia. Cristo age na Igreja. O sacramento é a celebração do sacrifício de Cristo que é uma resposta ao dom da graça. Torna-se, então, a segurança da salvação escatológica no Cristo se fez KYRIOS. Cristo se encontra nos sacramentos por ter uma realidade eterna: Homem-Deus, manifestando a graça divina. Não obstante, o sacramento é instrumento de santificação, ou seja, a resposta humana ao ato de Jesus nos sacramentos. O sinal do culto é a manifestação do interior de cada pessoa, isto é, a profissão de fé que cada pessoa manifesta em culto a Deus. Os sacramentos, por assim, dizer tornam-se atos simbólicos que exprimem a fé de uma comunidade religiosa. O ato de culto da Igreja é a comunhão com a graça de Deus que santifica. Nos sacramentos tem a eficácia da graça infalível, pois, Cristo age na santificação do fiel. Essa infalibilidade é expressa pelas palavras EX OPERE OPERATO. É o próprio ato simbólico e ritual da Igreja. A santificação tem a sua eficácia através do rito estabelecido. Esse mistério expresso em realizações humanas de redenção tem como sinal edificante a pessoa de Cristo glorioso que é transmitida pela Igreja na pessoa do Espírito Santo. Desta forma, o sacramento na Igreja tem a graça Trinitária que contempla a eficácia do sacramento[1]. O sacramento é sinal eclesial da fonte da graça de Cristo. Portanto, o ato simbólico da Igreja está impregnado de toda a ação de salvífica de Cristo. A salvação de Cristo se realiza essencialmente no sacramento.



Referencia Bibliográfica
SCHILLEBEECKX,E., Cristo, sacramento do encontro com Deus. Petrópolis, Vozes, 1968.







[1] “...a teologia ensina que, colocado corretamente o sinal exterior, o rito opera a graça por si mesmo ou EX OPERE OPERATO, não podemos esquecer o profundo mistério cristológico e trinitário que por ele professamos... a obra do Senhor sacramentalizada para nós em um ato religioso autenticamente eclesial, o Pai de misericórdia nos comunica a graça pela missão do Espírito de Cristo” (SCHILLEBEECKX,E., Cristo, sacramento do encontro com Deus. Petrópolis, Vozes, 1968, pp80).

domingo, 5 de outubro de 2008

Os sacramentos, lugares de encontro com Deus.

O mistério de Deus se revela em Cristo. O mistério se revela, mas, ainda continua o mistério da ação de Deus no homem. Cristo se fez homem para redimir toda a humanidade e conduzi-la a Deus. Este é senão o plano de Deus para com a humanidade. Toda a humanidade está assegurada pelas mãos de Deus. É por isso que Cristo se faz presença em meio ao homem para que este possa estar na presença de Deus. A aliança feita com Deus já é o reflexo da bondade de Deus existente desde a criação. A realização do homem se procede pelo amor de Deus agindo na humanidade. Desta forma, Cristo torna-se o elo que interliga o humano e o divino. Cristo torna-se o sacramento que une o homem a Deus. Outrora, o termo sacramento era adotado como juramento de fidelidade, ou seja, um pacto em que se estabelecia entre amigos ou qualquer relação pública. Desta forma tornou-se apropriado traduzir o termo mistério do latim como sacramento, pois Deus pactua com a humanidade o plano divino da salvação. É assim, que se tem a aproximação do mistério ao termo sacramento. Como pode Deus pactuar seu mistério com a humanidade? Jesus é o sacramento do qual realiza a ação salvífica de Deus. O sacramento é a manifestação de Deus na humanidade pela pessoa de Jesus. A graça de Deus interage na humanidade por intermédio de Jesus. Deus deixa transmitir sua graça pela pessoa de Jesus. Evidentemente que a graça de Deus já se fazia presença já desde a criação, mas com Jesus a humanidade percebe e reconhece e n’Ele a obra do Redentor. Jesus transmite os sinais eficazes da graça de Deus para a realização da redenção de toda a humanidade. Cada sinal transmitido por Jesus é a graça de Deus agindo na história do homem. O homem é convidado a corresponder à graça de Deus em sua vida. A Palavra de Deus se faz viva e eficaz. A misericórdia de Deus adentra toda a existência humana. Desta forma os sacramentos realizam a aliança com Deus na pretensão de que cada pessoa interaja no amor e na humildade.



Referencia Bibliográfica

FORTE, B., Introdução aos Sacramentos. São Paulo: 1996.

domingo, 28 de setembro de 2008

Antropologia paulina - Kasemann

Ernest Kasemann apresenta uma perspectiva da antropologia paulina com dois elementos: o corpo (essência) e o espírito. Todos têm um corpo. Este corpo é um organismo com vários membros. O espírito é a condição de se conduzir a Deus. O autor quer afirmar também que o homem habita no mundo e este mundo tanto quanto o homem é criação de Deus. Os dois estão unidos a Deus[1].
Há uma perspectiva histórica-religiosa no pensamento de Kasemann. O homem tem uma vida histórica que o projeta no mundo. O homem está em vivencia com o outro. Há uma comunhão de pessoa. Kasemann tem uma idéia contrária a de Bultmann
[2]. Este afirma o Jesus da fé e não o Jesus histórico. Os apóstolos criaram um mito de Jesus na história. Mas Kasemann afirma Jesus na história com a referencia do judaísmo e do helenismo[3].
Com efeito, Kasemann estabelece a participação do homem na história. É por isso que Paulo identifica a atuação do homem com o corpo e o espírito no mundo
[4]. Porque o homem está participando na sociedade e no mundo criados por Deus.
O homem tem uma estrutura ontológica. A essência do homem é ontológica. Mas, qual é a essência do homem? A essência do homem é o próprio corpo. O corpo do homem é a condição de ser com Deus. Esta é a condição pela qual no corpo existe o espírito que pode conduzir a pessoa a Deus. No pensamento de Paulo o homem tem um corpo, a alma e o espírito. O corpo é a realidade material, a alma pode compreender a realidade material e o espírito é a condição para a divindade.
Deus se faz no mundo e no homem pelo Espírito. O Espírito de Deus está com o espírito do homem
[5]. Assim, o homem tem a graça em sua vida pelo Espírito de Deus. Mas, Deus criando o mundo dá o dom da liberdade ao homem e, não obstante, ele pode negar a presença de Deus em sua vida. Nesta condição Kasemann afirma uma esfera demoníaca no gênero humano, isto é, quando o homem não está com Deus estende-se para a esfera demoníaca[6]. E claro que não há a necessidade de existir a personificação do diabo ou do demônio, mas, a tendência do homem para afastar-se de Deus.
Jesus Cristo é a fonte da graça no ser humano. Jesus é o caminho que pode conduzir todos a Deus. É somente por Ele que a promessa de Deus se estende ao fim. A redenção de Deus foi realizada por Jesus Cristo vivendo na historia da humanidade
[7]. E a humanidade espera a vinda de Cristo na parusia.
Assim, o individuo está inserido no mundo. Isso Kasemann chama de vocação. Porque o homem pode transmitir os dons como um membro do corpo de Cristo. Os dois, o mundo e o individuo não podem estar separados porque Cristo transmite a graça divina para todas as coisas criadas. O mundo e o homem estão em comunhão com Deus por Cristo
[8].


Referencia Bibliográfica
KASEMANN, E.; Perspectivas Paulinas. São Paulo: Paulus/Teológica. 2003.

[1] Cf. KASEMANN, E.; Perspectivas Paulinas. São Paulo: Paulus/Teológica. 2003, pp. 11.
[2] Idem, pp. 20.
[3] Idem, pp. 19.
[4] Idem, pp. 35.
[5] Idem, pp. 42.
[6] Idem, pp. 49.
[7] Idem, pp. 54.
[8] Idem, pp. 56-57.

sábado, 27 de setembro de 2008

O profeta e o culto/ Visão profética da história.

O culto em Israel se estabelece em três formas básicas: espaço sagrado, tempo sagrado e as ações sagradas. O espaço torna-se sagrado devido à manifestação da divindade, uma pessoa de expoente religiosa funda tal lugar e desenvolve-se para o culto profano. Existem lugares que são considerados como manifestações divinas: Betel Sinai, Jerusalém. Mas há outros lugares escolhidos pelo homem: Guidal, Dã, etc. O tempo é caracterizado pelas festas: ázimos (colheita nova), pentecostes (passagem, libertação do Egito) e tabernaculos (festa de Javé – relacionada ao deserto) e o sábado que é considerado o dia do descanso – observância, fidelidade a Deus. As ações (ritos) eram caracterizadas pelo sacrifício. Tem-se o sacrifício sobre o altar como oferta a Deus. Temos ainda os holocaustos (queima), sacrifícios de comunhão (comem-se como coisa santa), expiatórios (remissão), oferta de vegetais complementando o sacrifício animal. Todos estes gestos eram acompanhados de orações, ritos de purificação e de consagração para aproximar-se de Deus.
Os ministros tinham a função de transmitir e ensinar a Tora, abater as vítimas como sacrifício a Deus e mediador entre os homens e Deus.
Estudiosos afirmam que os profetas tinham uma ligação com o culto do povo de Israel com seus sacrifícios e holocaustos. Torna-se radical afirmar uma completa rejeição do culto por parte dos profetas. Afirmam certa divergência exegética. Antes do exílio teriam os profetas uma rejeição ao culto, porém após o exílio tem-se uma aproximação ao culto de Israel, sendo assim requer uma distinção melhor aos textos.
O culto passa a ter uma outra interpretação. Tem-se quebrado os valores de culto para a satisfação própria. O homem passa a procurar seu jeito próprio de aproximar-se de Deus, pondo em descrédito a realização do culto. Um exemplo disso é Saul que após uma conquista não promove o extermínio de animais, mas seleciona os melhores gados para o culto ao Senhor como reflexo de um culto exagerado
[1]. Por outro lado, Amós e Oséias combatem sacrifícios acompanhados de sofrimentos e opressão dos menos favorecidos[2]. Oséias também afirma que os sacerdotes fazem do culto um negócio. Transmite uma idéia falsa para que se possa beneficiar de animais e alimentos para consumo próprio[3]. Jeremias exorta ao culto do qual deveria ser voltado para a justiça de Deus, a justiça divina, apoiando os órfãos e oprimidos[4]. Para Jeremias a Casa de Deus se tornara um covil de bandidos. Desta forma o profeta afirma que a Casa de Deus já não se encontrava mais em nenhum lugar[5].
Para o antigo povo de Israel o culto era inconcebível com seus ritos e ações. Os profetas desencadearam duros conflitos para combater essas ações. O texto que melhor expressa essa ação contrária esta no Salmo 50 no que diz: “Por acaso comerei sangue de touros ou beberei sangue de bodes?” Os profetas apresentam os sacrifícios como realizações puramente humanas e não uma ação de Deus. Os cultos não agradam a Deus e isso reflete no texto de Oséias no que diz: “quero misericórdia, não sacrifícios, conhecimento de Deus e não holocaustos”.
A profecia dos profetas serve como anuncio da Palavra de Deus e denuncia das injustiças da sociedade. Deus age nos profetas pondo-os em missão de anunciar a Palavra de Deus. Os profetas observam na natureza a ação de Deus. As intempéries são ações de Deus não como castigo, mas, uma forma de conversão da sociedade. A visão do profeta é puramente teológica. Assim, uma guerra é resultado da ação de Deus para conter o pecado da sociedade. É a providencia de Deus agindo no povo. O futuro é a esperança que o profeta almeja com a conversão, renovação, aliança e intimidade com Deus.
Deus é soberano porque está a frente de todos os povos e de todos os exércitos, assim ele se faz Senhor da história, mas também age na orportunidade, ou seja, Deus age no momento oportuno na vida do homem. Isso faz pensar na obra divina com algo estranho e surpreendente, pois o plano de Deus não é o mesmo do que de qualquer homem. Torna-se muitas vezes escândalo, pois Deus também age no sofrimento como uma forma de purificação e conversão
[6].
Portanto, a palavra de Deus age na história humana. O fato de rever o passado dá indícios de uma conversão. A análise dos atos e fatos pode levar a uma mudança de vida em Deus. Não obstante, para que a palavra de Deus possa ter sua força e atuação na vida do homem, este deve ter fé. A fé é o alimento para a salvação do homem. A fé faz com que o homem creia, se fortaleça, supere e confie em Deus agindo em toda a humanidade.

[1] “O homem tem a tentação de procurar o seu próprio caminho para contentar a Deus.” (cf. SICRE, J.L., Profetismo em Israel, Petrópolis, Vozes, 1996, pp. 392).
[2] “As peregrinações aos grandes santuários de Betel, Guildal e Bersabéia exercem grande atração sobre o povo. Não se deixa de pagar dízimos, são abundantes os sacrifícios de animais e as oferendas voluntárias. Mas todo esse culto está acompanhado de tremendas injustiças, de fraudes no comércio, compra e venda de escravos e opressão de fracos” (cf. SICRE, J.L., Profetismo em Israel, Petrópolis, Vozes, 1996, pp. 392-393).
[3] Cf. SICRE, J.L., Profetismo em Israel, Petrópolis, Vozes, 1996, pp. 395.
[4] Cf. SICRE, J.L., Profetismo em Israel, Petrópolis, Vozes, 1996, pp. 400.
[5] “Em resumo, a imensa maioria dos textos proféticos mostra-se crítica frente ao espaço sagrado, contagiando por práticas idolátricas cananéias os lugares altos e que fomentam uma falsa religiosidade ou uma falsa idéia de Deus (santuários e templos)” (cf. SICRE, J.L., Profetismo em Israel, Petrópolis, Vozes, 1996, pp. 402).
[6] cf. SICRE, J.L., Profetismo em Israel, Petrópolis, Vozes, 1996, pp. 416-419).

Referencia Bibliográfica
SICRE, J.L., Profetismo em Israel, Petrópolis, Vozes, 1996.