domingo, 15 de março de 2009

Todo o ser é belo - Todo ser é bom

Não obstante, outras faculdades cognitivas percebem também a beleza. Nós sabemos por experiência, que nós não chamamos belos os objetos dos sentidos de atração, de tocar e do gosto. Somente os sentidos que tem um conhecimento mais perfeito fazem a experiência do belo, a saber, a visão e a audição, na medida em que eles estão a serviço da razão. Isto se explica pelo fato que a experiência da beleza é a percepção da claridade de uma forma, da proporção e da harmonia das partes de um objeto. Ora, em última análise, só o intelecto pode conhecer esta claridade e esta ordem ou proporção. Certamente, nossos sentidos da visão e da audição conhecem as formas e os sons, mas sem a ajuda do intelecto, nós não poderíamos conhecer a beleza enquanto tal, isto é, o fato de que os objetos percebidos pelos sentidos estão adaptados e estão em harmonia com o desejo tão profundo do intelecto da claridade e da ordem. Nenhum animal tem uma experiência da beleza no sentido estrito do termo, ainda que ele possua os elementos materiais necessários a experiência da beleza. Os sentidos inferiores consideram seus objetos menores como o que é separado do conhecimento a ele exteriormente, o que é diretamente ligada ao sujeito. É porque estes sentidos têm uma menor capacidade em perceber a claridade e a ordem. Sua colaboração com o intelecto é também menos direta que aquela da visão e da audição.

O belo se definiu como conhecimento que é uma fonte de prazer. Antes de tudo, o belo é uma coisa na qual o ato de conhecer e o desejo fundamental do intelecto encontram sua satisfação e alcançam seu repouso. O desejo que fala Santo Tomás é em primeiro lugar a tendência das faculdades cognitivas superiores por um conhecimento claro, mas o termo designa também na faculdade apetitiva por si mesma (ao mesmo tempo o apetite sensível e intelectual), que encontra sua plenitude se repousando num belo objeto.

A beleza tem uma relação com verdade: chama-se com efeito da verdade (splendor veri) porque ela se realiza pela claridade e pelo brilho, assim como pela harmonia das partes bem proporcionadas (ou pelas riquezas interiores da essência); é o que se chama a ratio obiectiva pulchri. No entanto, a beleza é ligada também ao bem porque a experiência que se tem dela preenche a vontade (o que se chama ratio sbiectiva pulcri). O belo e o bem são idênticos na coisa porque os dois são estabelecidos pela forma. O belo é uma espécie de bem. Isso não significa que o belo seria como uma espécie no interior de um gênero (como o tigre é uma espécie dos animais) e por conseqüência não teria a mesma extensão que o bem enquanto conceito transcendental. Santo Tomás confirma categoricamente que todas as criaturas são belas e que cada forma é, de um certo modo, radiosa e perfeita. Pela expressão species boni ele quer sem nenhuma duvida dizer, que o belo acrescenta alguma coisa ao bem, a saber, uma correspondência particular com o intelecto, que resulta da claridade e da ordem harmoniosa das partes, que é próprio dos seres. O belo está ligado a verdade porque está ordenada as faculdades cognitivas; ele está ligado ao bem porque satisfaz a vontade.

O belo é por conseqüência, esta propriedade dos seres que surgiu de uma associação da verdade e do bem. Isto explica porque Santo Tomás não o menciona como um transcendental especial. Sendo uma síntese da verdade e do bem ele é o objeto do conhecimento contemplativo do homem que esperará sua perfeição na beatitude na visão de Deus. O belo é admirado e amado por causa de sua forma, não é, em primeiro lugar, um bem que se deseja esperar. A vida contemplativa por si mesma é bela. A atividade da inteligência efetuada na claridade e na ordem é bela por excelência. As virtudes morais também são belas enquanto elas participam das ordens dos atos humanos na verdade ultima do homem, uma ordem que elas ajudam a assegurar. Tem esta proposta David Hume em que escreve: não há espetáculo mais belo que uma ação nobre e generosa.



ELDERS, L.J., La metaphysique de Saint Thomas d’Aquin. Paris: Vrin, 2008, pp, 159-167


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