domingo, 1 de março de 2009

Todo o ser é belo - O sentido da beleza na tradição cristã

Como mostram as citações acima, Plotino afirma a Beleza ontológica das coisas. Em vista da atenção que levava o fundador do neo-platonismo à beleza, não se surpreende mais em ver Santo Agostinho tratar da beleza em vários de seus textos. Ele sublinha que por ser belo, uma coisa deve ser uno, isto é, que ela deve parecer em sua forma ideal: “Toda a Beleza é uma”. As partes do que é belo estão ordenados uns aos outros e a sua fonte de unidade. Agostinho levanta também a questão de saber se as coisas são belas porque elas nos agradam ou se elas nos agradam porque elas são belas. Um outro problema: por que as coisas são belas? Pode ser porque suas partes parecem umas com as outras e são alinhadas harmoniosamente umas as outras a um acontecimento? Ao passo que Santo Agostinho responde a estas questões, ele nota que, apesar disso, as coisas não alcançam esta unidade à qual elas tendem; ele se vê, então, confrontado na questão de saber onde se encontra a unidade real. Tomando a teoria platônica da participação, ele sugere que não se pode retirar o conhecimento da unidade pura, que é a base de uma experiência do belo na percepção do corpo estendido no espaço. A Beleza é o brilho da unidade das coisas e a ordem de suas partes. Denys o Areopagita, do qual em seus escritos tiveram uma grande influencia sobre o Ocidente latino, segue a mesma linha de pensamento. No esplendor do seu ser, Deus é a Beleza por si mesmo; Ele criou o mundo a partir do amor de sua própria Beleza e as criaturas partilham mais ou menos de sua Beleza.

Estudando os doutores que imediatamente precederam Santo Tomás, nós vemos que Guillaume d’Auverne que o que é bom é igualmente belo; Jean de la Rochelle acrescenta por sua parte a beleza na tríade de Philippe Le Chancelier (unidade, verdade, e bondade). Num texto importante, Boaventura enumera quatro propriedades transcendentais do ser: a unidade, a verdade, a bondade e a beleza. Santo Alberto definiu a beleza como ser “o esplendor da forma substancial ou acidental sobre as partes materiais que são proporcionadas e delimitadas”. A essência da beleza reside na harmonia de certo numero de partes. Para Santo Alberto, esta proporção de partes constitui o elemento material da beleza, ao passo que o esplendor da beleza é o componente formal. Em seu Super dionysium de divinis nominibus ele atribiu três características essenciais da beleza: o esplendor da forma das partes bem proporcionadas; o despertar do desejo; a reunião de todas as coisas pela forma da qual o esplendor constitui a beleza (congregat omnia ex parte formae cuius resplendentia facit pulchrum).


ELDERS, L.J., La metaphysique de Saint Thomas d’Aquin. Paris: Vrin, 2008, pp, 159-167


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