domingo, 31 de maio de 2009

2 - Contribuição de Deus Pai na história da salvação.

2 - Contribuição de Deus Pai na história da salvação.

Paulo entendeu o Evangelho como uma parte somente do grandioso plano, gratuitamente concebido pelo Pai, para a salvação dos homens, revelado e realizado em Cristo Jesus. Foi o “desígnio”

Rm 9,11; 8,28; Ef 1,11 “Antes mesmo que fossem nascidos, e antes que tivessem feito bem ou mal algum (para que fosse confirmada a liberdade da escolha de Deus”; “Aliás, sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios”; “Nele é que fomos escolhidos, predestinados segundo o desígnio daquele que tudo realiza por um ato deliberado de sua vontade

e a “vontade” do Pai (Ef 1,5 “No seu amor, predestinou-nos para sermos adotados como filhos seus por Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua livre vontade”).

O autor do plano salvador não é Cristo, mas Deus Pai. Deus “aprouve” a gratuidade da iniciativa, que Paulo sempre atribui ao Pai, cujo grande pensamento é a “salvação” dos homens[1]. Temos várias considerações que Paulo afirma sobre Deus Pai: Deus o “criador de todas as coisas” (Ef 3,9); Deus, que “chamando-as, faz existirem as coisas que não existem” (Rm 4,17); Deus, que possui “tanto seu poder eterno como sua divindade” (Rm 1,20); Deus que é “verdade” (Rm 1,25; 3,7); Deus que é “sabedoria e ciência” (Rm 11,33); Deus que manifesta sua “ira” (Rm 1,18); Deus que, sobretudo, manifesta “justiça” (Rm 3,5.25).

Quando Paulo fala da justiça de Deus, não se deve pensar, na justiça vingativa de Deus em oposição à sua misericórdia. A relação do Pai com a salvação do homem é muito mais elucidada, contudo, pelo modo como Paulo concebe a relação de Deus com Cristo. Em Cristo, o homem encontra a prova suprema do amor do Pai. É o amor do Pai que é depositado em nossos corações[2]. É o “Deus vivo e verdadeiro” (ITs 1,9) a quem Paulo contempla como autor do plano eterno da salvação e ao qual dirige sua prece[3].

Paulo usa uma divisão semelhante da história do homem. De Moisés até Cristo, o período da Lei, os pecados dos homens foram-lhes imputados como transgressões da Lei. Em lugar da lei mosaica, há agora a “lei de Cristo” (Gl 6,2 “Ajudai-vos uns aos outros a carregar os vossos fardos, e deste modo cumprireis a lei de Cristo”), a lei do Messias

1Cor 9,20 “Para os judeus fiz-me judeu, a fim de ganhar os judeus. Para os que estão debaixo da lei, fiz-me como se eu estivesse debaixo da lei, embora o não esteja, a fim de ganhar aqueles que estão debaixo da lei”; Rm 13,9-10 “Pois os preceitos: Não cometerás adultério, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e ainda outros mandamentos que existam, eles se resumem nestas palavras: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. A caridade não pratica o mal contra o próximo. Portanto, a caridade é o pleno cumprimento da lei”.

Paulo considerava seu tempo como a “última fase dos tempos[4]”, isto é, quando o tempo da Lei encontrou o tempo do Messias, pois a Lei de Moisés conduzirá os homens a Cristo[5].

Já desde o Antigo Testamento, realizou-se toda a preparação divina para o Cristo[6]. Com a presença de Cristo compreende-se todas as etapas da existência do homem, da criação à consumação, baseada, na intervenção de Cristo, na história, quando chegou àplenitude dos tempos [7]. Nenhum resumo da concepção de Paulo sobre a história da salvação seria completo sem uma referência à sua escatologia, uma vez que o assunto faz parte de toda discussão do plano divino da salvação.

O pensamento de Paulo evoluiu, na expectativa da volta do Senhor. É parusia (ou seja, o retorno do Senhor) que estabelece, na esperança da Igreja, para que se realize, na humanidade, a plenitude dos tempos proposta por Deus na pessoa de Jesus Cristo.

Na realidade, não apresentar a escatologia de Paulo é negar um dos aspectos mais importantes de sua concepção: a história da salvação. Paulo já dissera: “etapa da história da salvação começou, porque nós tocamos a última fase dos tempos” (1Cor 10,11).



[1] Rm 1,16

[2] Rm 5,5

[3] 2Cor 9,14-15

[4] 1Cor 10,11

[5] Gl 3,24

[6] Rm 9,4-5

[7] Gl 4,4

domingo, 24 de maio de 2009

1 - O Evangelho de Paulo

1 - O Evangelho de Paulo
Evangelho é o sentido cristão da “Boa nova de Jesus Cristo” que Paulo desenvolvera junto à comunidade primitiva. Paulo utiliza a expressão “meu Evangelho” . Tal expressão não quer dizer que Paulo tinha o intuito de promover um Evangelho paralelo de forma a não considerar o anúncio dos apóstolos. O termo “meu Evangelho” diz respeito ao fato de que existe um único Evangelho, Jesus Cristo. Paulo tinha total consciência da graça que lhe fora confiado por transmitir a boa nova de Cristo. Transmitir a boa nova de Cristo é agir como os profetas do Antigo Testamento que pronunciaram sobre Deus de acordo com a missão que cada profeta recebera . Aquele que pronuncia a vontade de Deus e a boa nova de Jesus Cristo torna-se um discípulo do sagrado. Paulo nunca deixou de pregar a boa nova mesmo quando estava, na prisão, cumpriu com seriedade a missão que lhe fora confiado: anunciara as maravilhas de Deus .
A Boa nova de Cristo era, para Paulo, ensinamentos, pregações, proclamações daquilo que Jesus quisera que o povo vivesse e esperasse de Deus. O conteúdo da Boa nova é o Cristo, o Filho de Deus e não somente o reino de Deus; prega-se o próprio Cristo Senhor, o esplendor glorioso do Evangelho, pois todas as promessas de Deus estão em Cristo Jesus . Em Paulo, encontram-se os ecos do querigma da Igreja primitiva . É Cristo que morre pelos pecados da humanidade tendo sua ressurreição a reconciliação com Deus. Jesus, descendente de Davi, torna-se Filho de Deus pela ressurreição. Paulo anuncia Jesus, Filho de Deus que ressuscitou dos mortos, conduzindo à humanidade a salvação. Paulo reforçava o querigma da igreja primitiva de forma a não criar divergências daquilo que fora proclamado por toda a Igreja primitiva .
O que torna caracteristicamente paulino o Evangelho de Paulo é a concepção salvífica do mesmo para com a humanidade. É a força divina que se dispõe à salvação do mundo. A revelação de Cristo, em sua dimensão salvífica, permite ao homem a crença, no Deus que salva e liberta . O anúncio se torna um processo redentor que permite ao homem se aproximar do Cristo ressuscitado. Pronunciar a Boa nova de Cristo é proclamar a força de Deus que interage no mundo. Dessa forma, Cristo e o Evangelho significam a ação salvadora do Pai para com os homens em que cabe a estes à fé e o amor como resposta a graça abundante de Deus. A pregação do Evangelho é o resultado da ação do Espírito de Deus que permite as boas obras. O Espírito de Deus é aquele que impulsiona o anúncio do Evangelho . Além da concepção salvífica do Evangelho, outra característica do Evangelho de Paulo é a salvação universal, ou seja, a salvação está para todos sem distinção . O Evangelho de Paulo se estende em salvação para todos os homens, judeus e gregos igualmente. Um terceiro dado a respeito do Evangelho de Paulo é o mistério da encarnação que se manifesta, na revelação de Jesus. Pois, é pela revelação de Cristo que se realiza o projeto salvífico de Deus. O Evangelho se torna um mistério pelo fato de que Deus se revela na pessoa de Cristo. A salvação já se realiza, pois Cristo vigora o evento salvífico com sua morte e ressurreição. No entanto, a salvação é ainda um dos mistérios, pois a Igreja espera fielmente, na vinda do Senhor (parusia) para completar por definitivo o efeito salvífico em sua plenitude .
A salvação de todos os homens perpassa por Cristo em que este incorpora aquele na Igreja. Na Igreja, Cristo é a cabeça, ou seja, a centralidade de toda a perspectiva cristã está, na pessoa de Cristo. Paulo considera o mistério, Cristo e o poder de Deus como a sabedoria de Deus. Isso se deve ao fato de que o homem jamais conseguirá alcançar a revelação em plenitude devido à limitação do mesmo. A revelação só é alcançada pela fé. É por isso que o Evangelho é considerado como um mistério, pois este se compreende plenamente, na dimensão escatológica . Por fim, o Evangelho de Paulo se entende devido à gratuidade do Pai que realiza a obra salvífica por intermédio da revelação de Jesus Cristo.

domingo, 17 de maio de 2009

6 - Considerações de Colossenses 1, 15-20.

6 - Considerações de Colossenses 1, 15-20.

Paulo, na Carta aos Colossenses, apresenta uma referência ao Cristo preexistente. A carta exorta um conhecimento maior sobre a pessoa de Cristo. É a verdade evangélica que ilumina e conduz aqueles que honram o Filho de Deus, sendo este aquele que chama a pertencer ao Reino de Deus. O Filho de Deus é, em sua vida divina, a imagem do Deus invisível, o primogênito da criação e causa exemplar e eficiente de todas as coisas criadas[1]. Como homem, ele é o chefe da Igreja e primogênito dos mortos; Ele possui a plenitude. Por seu sangue, ele redime a humanidade. Ele reconcilia a Deus os gentios e os destina à santidade.

Cristo assume o primado de superioridade em face de toda a criação (primogênito de toda a criatura), existe antes de todas as coisas; é nele que todas as coisas, na sua diversidade (céus, terra, realidades visíveis e invisíveis), encontram a sua ordem. Interessante que o texto de Cl. 1,15-17 faz referência ao texto de Pr. 8,22ss[2] quando este diz: “O Senhor me criou, como primícia de suas obras, desde o princípio, antes do começo da terra. Desde a eternidade fui formada, antes de suas obras dos tempos antigos. Ainda não havia abismo quando fui concebida, e ainda as fontes das águas não tinham brotado...”. A Cristo, é atribuída à causa eficiente da criação, isso porque ele é a imagem de Deus. É por intermédio de Jesus que a invisibilidade de Deus se torna visível. É por Jesus que Deus se faz história.

A face de Deus só pode ser encontrada pela pessoa de Jesus. Jesus é a verdadeira imagem de Deus. A criação só tem a sua “consistência”, sua justificação, seu significado por intermédio de Jesus. Jesus é a verdadeira imagem de Deus e não Adão[3].

Nos vv 18-19, explicita a existência histórica de Cristo o qual tem seu ápice, na páscoa. “No sangue da sua cruz”, faz alusão a Cristo que deu sua vida por remissão dos pecados de muitos; e Ele, Cristo, é o “primogênito dentre os mortos” que ressurge vencendo a morte e o pecado. A plenitude de Deus habita em Cristo com sua divindade, sabedoria e presença. Dessa forma, Cristo, com sua presença, compartilha com toda a humanidade a plenitude de Deus se fazendo “cabeça” da Igreja.

Para Paulo, o mistério de Cristo se estende desde os confins do universo até alcançar toda a existência da humanidade. A pessoa de Cristo está para toda a história, não somente para o futuro, num sentido escatológico, nem para o presente. Tudo foi feito n’Ele, por ele e para Ele. É em Cristo que se encontra essa aproximação de toda a criatura em Deus. Tem-se essa unidade entre as coisas criadas em Deus por Jesus Cristo; e essa unidade tem sua plenificação, na Páscoa, que é o gesto de amor de Deus para a humanidade.

Somente em Jesus tem-se a plenitude da salvação. Assim como está escrito, em Cl 2,8, “Tomai cuidado para que ninguém vos escravize por vãs e enganosas especulações da ‘filosofia’, segundo a tradição dos homens, segundo os elementos do mundo, e não segundo Cristo”. Pois é, em Cristo, que se pode encontrar o verdadeiro sentido do mundo e da história. Portanto, Jesus sendo a imagem de Deus invisível é aquele que proporciona a salvação, e está presente, ativamente, desde o processo de criação. Torna-se a evidência de um Cristo preexistente na carta aos colossenses.



[1] Cl. 1,15-16

[2] Observam-se considerações da cristologia sapiencial também na carta aos colossenses. (cf. SERENTHÀ, Mario, Jesus Cristo ontem, hoje e sempre. pp. 149).

[3] “Muitos exegetas vêem por trás do tema “imagem”, além de uma referência à reflexão sapiencial, também uma referência a Gn 1,26-28 “Então Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastem sobre a terra. Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher’ Não se exclui que Paulo pense, ao citar o hino de Cl, na teoria dos dois Adões, segundo a qual... se declara que o segundo Adão, Cristo, e não o primeiro, é a imagem perfeita de Deus”. (cf. Ib. pp. 149).

domingo, 10 de maio de 2009

5.1 – Kyrios

5.1 – Kyrios

O título, Senhor, é o que melhor expressa a condição de Jesus em ter sido exaltado e de estar à direita de Deus. Jesus estaria na condição de glorificado, e vela pela humanidade. Os primeiros cristãos deram a Jesus o título de KYRIOS, proclamando que não é somente uma pessoa do passado, inserida, na história, e um objeto de esperança futura, mas uma pessoa que se encontra no presente. Jesus se encontraria vivo para que a humanidade possa elevar suas orações até Ele e a Igreja possa invocá-lo em culto, fazendo com que as orações possam se tornar eficaz.

Paulo utiliza em seus textos (Rm 10,9; Fl 2,9; 1Cor 12,3) a terminologia de KYRIOS para Jesus. Os textos mostram que Paulo faz uma confissão de fé e que não inventara tal fórmula ou expressão, mas que herdara da comunidade palestina juntamente com as concepções lá existentes. A fé, no KYRIOS, é a experiência da presença do Senhor.

Em Rm 10,9, tem a expressão confessar com a boca, crer com o coração que faz com que Paulo considere: Jesus é o Senhor[1]. É a expressão de fé por parte de Paulo que abarca todas as outras.

No texto de Filipenses 2,9, refere-se numa confissão de fé, em que todos os seres da terra dos céus e dos abismos proclamam Jesus como Senhor. O texto forma uma cristologia que afirma Cristo em sua vida constitutiva, na história, e a sua preexistência. Cristo é exaltado, é considerado como KYRIOS (Senhor). Cristo existia já, em princípio, em condição divina. Cristo se despojou de sua condição divina não por uma forma desobediente, mas concedeu em razão de obediência até a morte de cruz. Por isso, é constituído como Senhor. A exaltação em igualdade com Deus prevalece, pois Deus concedeu o nome que está sobre todo o nome: KYRIOS. KYRIOS é o nome o qual não pode ser igual e nem menor do que qualquer um outro nome. Isso se deve ao fato de que KYRIOS é a tradução grega do hebraico ADONAI (próprio de Deus). Os cristãos não se limitaram a dar um nome puro a Jesus, pois tanto, no judaísmo quanto, nas outras religiões antigas, o nome indica ao mesmo tempo o poder. À KYRIOS IESOUS é concedida toda a soberania e sabedoria, pois é igual a Deus. Toda a criatura (inclusive as invisíveis) clama Jesus é o Senhor[2].

Em 1Cor 12,3, Paulo apresenta a influência do helenismo. Afirma a existência de outros kyrioi, ou seja, o culto ao imperador estabelece como uma força, na região de Corinto. Só se reconhece Jesus como Senhor pelo Espírito Santo, pelo Espírito de Deus. Evidentemente, o Espírito de Deus é aquele que fala em toda a oração feita pelo cristão, fazendo que reconheça a Deus que é Pai e a Jesus como Senhor[3].

Há outras considerações de Paulo a respeito de KYRIOS, principalmente quando atribui KYRIOS no contexto da parusia[4]. Cristo se torna o juiz dos vivos e os mortos.

Não obstante, Cerfaux afirma que KYRIOS é uma designação de difícil compreensão para Paulo. KYRIOS seria uma atribuição à pessoa de Jesus, em sua vida mortal e não somente um nome que afirme apenas o Cristo celeste e transcendente[5]. Eis o questionamento: Paulo teria concebido KYRIOS com o mesmo significado da Bíblia grega?[6] O questionamento se deve ao fato de que a terminologia que se refere à KYRIOS ou Messias dizia respeito também à descendência de Davi[7]. Todos aqueles que estiveram à frente em Israel descenderam de Davi. Esses foram considerados como “ungido” de Deus.

Apesar da dificuldade em apresentar uma resposta coerente enquanto o KYRIOS, no sentido da preexistência, ou seja, Jesus como Senhor, desde a eternidade, não se pode negar que os cristãos souberam identificar o Cristo como aquele que se distingue da pretensão divina do imperador[8].

O mistério da realeza de Cristo tem, por sua vez, seu prolongamento por meio do mistério da salvação. Cristo é a justificação de toda a humanidade. Ser justo é seguir as vontades de Deus. Evidentemente, a graça de Deus se faz presença na humanidade. Não obstante, a superação do pecado é a sabedoria do homem ungido pelo Espírito que conduz ao projeto do Pai em que a todos competem o Reino de Deus. É o cristão agindo, segundo a ação do Espírito Santo, com amor e solidariedade a exemplo de Cristo.



[1]“Não se pode duvidar que tenha pertencido ao uso litúrgico geral da Igreja antes de ser assumida por Paulo” (cf. Oscar CULLMANN, Cristologia del nuevo testamento. pp. 289).

[2] (cf. Oscar CULLMANN, Cristologia del nuevo testamento. pp. 289).

[3] (cf. Oscar CULLMANN, La oracion em el nuevo testamento. pp. 130).

[4] 1Ts 4,16

[5] (cf. Lucien CERFAUX, Cristo na teologia de Paulo. pp. 362).

[6] “O hábito de denominar Soberano ‘Senhor’, KYRIOS é um traço de costumes orientais, que passou para a língua grega, na época do helenismo, sob a influência de idéias orientais. Encontramos disseminado no Oriente o título ‘Senhor’, quase sempre sob a forma de ‘nosso Senhor’ dado aos reis. O título KYRIOS, atribuído aos reis pelos greco-romanos no Oriente, não tem por si mesma relação alguma com o culto, mas pertencem a todos os soberanos. Ligado à pessoa dos imperadores, tomou um sentido ainda mais especial, na linguagem do povo, significando concretamente ‘o imperador’. Ainda aqui continua com freqüência a ser simples título honorífico, ou antes de função, dado ao soberano só pelo fato da dignidade imperial, sem que haja liame necessário e essencial entre o apelativo KYRIOS e o culto imperial”. (cf. Lucien CERFAUX, Cristo na teologia de Paulo. pp. 359).

[7] “Com o estabelecimento da monarquia, a idéia messiânica assume a forma política da monarquia israelita e próprio rei, Davi, com sua dinastia, transforma-se no elemento dominante do messianismo. A predominância do rei nasce da concepção que o mundo antigo tinha do rei e da realeza: o rei era a encarnação visível do seu povo, uma pessoa representativa através da qual e na qual o povo agia como unidade política”. (cf. John. L., MACKENZIE, Dicionário Bíblico. pp. 606).

[8] “A realeza entre soberania de Cristo e Páscoa evidencia o estilo específico da realeza de Cristo: o seu domínio não é como o dos reis deste mundo, mas se exprime através da doação de si até a morte na cruz, cumprindo a obediência à vontade do pai” (cf. Mario SERENTHÀ, Jesus Cristo ontem, hoje e sempre. pp. 505).

domingo, 3 de maio de 2009

5 - Cristo preexistente.

5 - Cristo preexistente.
A preexistência do Filho de Deus, sua natureza divina, e seu papel ativo na criação do mundo, podem ser observados, diretamente, por três testemunhos em 1Tm 1,15, 1Tm 3,16 e 2Cor 2,8.
Supõe-se um modo de existência anterior à encarnação devido à mudança de riqueza do céu contra a pobreza da terra. Outros textos também enriquecem a perspectiva da preexistência em Rm 8,3 e, não obstante em Gl 4,4. Dessa forma, pode-se dizer que O Filho coincide com a origem terrestre. A existência de Jesus precede a toda a necessidade, pois é a semelhança da carne do pecado e, não obstante, a natureza humana o termo da missão.
Cristo é o primogênito de toda a criatura e é, absolutamente, impossível que essa expressão queira dizer: primogênito entre as criaturas, ou seja, somente a primeira criatura, o primeiro ser criado. Cristo o é antes de toda a criatura. Paulo mesmo afirma, dizendo: “Nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as criaturas visíveis e as invisíveis. Tronos, dominações, principados, potestades: tudo foi criado por ele e para ele” (Col 1,16). Cristo não apenas existia como, mas Ele subsistia sobre a forma de Deus. Isso pode ser conferido em Fl 2,6: “Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus”. A forma de Deus não é suplantada na forma limitada (humana), lá, onde ela está ela é eterna . Isso se deve ao fato de que Jesus é ontem hoje e sempre e será pelos séculos dos séculos . Dessa forma, o autor das Epístolas aos Hebreus distingue, na vida de Cristo, três fases: 1) a preexistência eterna do Filho, a aparição histórica sobre a Terra à plenitude dos tempos e a exaltação gloriosa do Cristo ressuscitado. Evidentemente, essas fases se procedem, na mesma pessoa, o Cristo. Pertencem a Cristo os três estados os quais se pode afirmar a eternidade de Cristo que se manifesta, na condição humana, sendo, verdadeiramente, homem e, verdadeiramente, Deus como afirma o Concílio de Calcedônia .
Cristo é preexistente. Essa afirmação tem agravante, quando se contrapõe à possibilidade de os homens também possuírem a preexistência. Haveria, realmente, almas e elas, de fato, se encarnariam? Para Paulo, Cristo é preexistente e faz honra disso, no entanto, que valor teria a preexistência de Cristo se todos também tivessem a preexistência? Muitos justificam a preexistência de Cristo, na concepção de Paulo, de acordo com a contribuição do grego Philon de Alexandria quando este afirma um homem celeste, incorpóreo e um homem terrestre. Esse último foi composto de uma alma. De acordo com essa teoria, o Cristo não seria o segundo Adão para Paulo, mas o primeiro .
Paulo é categórico em excluir a concepção de distinção entre corpo e alma do pensamento grego, quando afirma a ressurreição de Cristo. Cristo ressuscitou de corpo e alma. Condição que para os gregos era inconcebível. Outra circunstância era a condição de sabedoria. Os gregos estavam em busca da sabedoria por eloqüência, enquanto que para Paulo a sabedoria era Cristo . Portanto, a teoria de Philon carece de base e fundamentos, pois Paulo se distancia da concepção grega de corpo e alma.
Portanto, segundo determinações de alguns textos bíblicos, Paulo apresenta a preexistência de Cristo. Os textos de Filipenses, Colossenses, 1Timóteo dão referência a um Cristo já existente. No entanto, resta, a saber, se tais textos correspondem àquilo que Paulo realmente pensava a respeito da preexistência . Isso se deve ao fato de que a carta aos colossenses, a 1Timóteo são considerados deuteropaulinas, ou seja, escritos pelas mãos, não de Paulo, mas de um discípulo ou algum simpatizante de suas idéias. O mesmo acontece com o texto de Filipenses 2,6-11, pois a esse hino afirmam como não ser da autoria de Paulo. Tal consideração não permite afirmar, com certa segurança, a circunstância da preexistência de Cristo.