2 - Contribuição de Deus Pai na história da salvação.
Paulo entendeu o Evangelho como uma parte somente do grandioso plano, gratuitamente concebido pelo Pai, para a salvação dos homens, revelado e realizado
Rm 9,11; 8,28; Ef 1,11 “Antes mesmo que fossem nascidos, e antes que tivessem feito bem ou mal algum (para que fosse confirmada a liberdade da escolha de Deus”; “Aliás, sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios”; “Nele é que fomos escolhidos, predestinados segundo o desígnio daquele que tudo realiza por um ato deliberado de sua vontade”
e a “vontade” do Pai (Ef 1,5 “No seu amor, predestinou-nos para sermos adotados como filhos seus por Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua livre vontade”).
O autor do plano salvador não é Cristo, mas Deus Pai. Deus “aprouve” a gratuidade da iniciativa, que Paulo sempre atribui ao Pai, cujo grande pensamento é a “salvação” dos homens[1]. Temos várias considerações que Paulo afirma sobre Deus Pai: Deus o “criador de todas as coisas” (Ef 3,9); Deus, que “chamando-as, faz existirem as coisas que não existem” (Rm 4,17); Deus, que possui “tanto seu poder eterno como sua divindade” (Rm 1,20); Deus que é “verdade” (Rm 1,25; 3,7); Deus que é “sabedoria e ciência” (Rm 11,33); Deus que manifesta sua “ira” (Rm 1,18); Deus que, sobretudo, manifesta “justiça” (Rm 3,5.25).
Quando Paulo fala da justiça de Deus, não se deve pensar, na justiça vingativa de Deus em oposição à sua misericórdia. A relação do Pai com a salvação do homem é muito mais elucidada, contudo, pelo modo como Paulo concebe a relação de Deus com Cristo. Em Cristo, o homem encontra a prova suprema do amor do Pai. É o amor do Pai que é depositado em nossos corações[2]. É o “Deus vivo e verdadeiro” (ITs 1,9) a quem Paulo contempla como autor do plano eterno da salvação e ao qual dirige sua prece[3].
Paulo usa uma divisão semelhante da história do homem. De Moisés até Cristo, o período da Lei, os pecados dos homens foram-lhes imputados como transgressões da Lei. Em lugar da lei mosaica, há agora a “lei de Cristo” (Gl 6,2 “Ajudai-vos uns aos outros a carregar os vossos fardos, e deste modo cumprireis a lei de Cristo”), a lei do Messias
1Cor 9,20 “Para os judeus fiz-me judeu, a fim de ganhar os judeus. Para os que estão debaixo da lei, fiz-me como se eu estivesse debaixo da lei, embora o não esteja, a fim de ganhar aqueles que estão debaixo da lei”; Rm 13,9-10 “Pois os preceitos: Não cometerás adultério, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e ainda outros mandamentos que existam, eles se resumem nestas palavras: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. A caridade não pratica o mal contra o próximo. Portanto, a caridade é o pleno cumprimento da lei”.
Paulo considerava seu tempo como a “última fase dos tempos[4]”, isto é, quando o tempo da Lei encontrou o tempo do Messias, pois a Lei de Moisés conduzirá os homens a Cristo[5].
Já desde o Antigo Testamento, realizou-se toda a preparação divina para o Cristo[6]. Com a presença de Cristo compreende-se todas as etapas da existência do homem, da criação à consumação, baseada, na intervenção de Cristo, na história, quando chegou à “plenitude dos tempos [7]”. Nenhum resumo da concepção de Paulo sobre a história da salvação seria completo sem uma referência à sua escatologia, uma vez que o assunto faz parte de toda discussão do plano divino da salvação.
O pensamento de Paulo evoluiu, na expectativa da volta do Senhor. É parusia (ou seja, o retorno do Senhor) que estabelece, na esperança da Igreja, para que se realize, na humanidade, a plenitude dos tempos proposta por Deus na pessoa de Jesus Cristo.
Na realidade, não apresentar a escatologia de Paulo é negar um dos aspectos mais importantes de sua concepção: a história da salvação. Paulo já dissera: “etapa da história da salvação começou, porque nós tocamos a última fase dos tempos” (1Cor 10,11).